segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Minha solidão.
Gosto de amargo na língua.
Falta e medo de faltar mais.
Porque dormes comigo quase todos os dias da minha vida
e eu te perder?
Claro que não.
Desejo de repintar um quadro com as cores que escolheres.
Vermelho, amarelo não faltarão.
Cuidado em organizar a nossa casa
deixa a roupa limpa os pratos cheios,
os livros guardados.
Lemos todos juntos, tu smepre dormes
meu desejo de contar história te embala
até virar sonho o conto empolgado
Me amas e eu tbm te amo
como é também feita d eincertezas a vida.
A noite uiva para dentro da janela.
Meu poema sai latindo pela rua sem endereço final.
A vida me traga e sopra
desperdiço-me no dia inteiro em que o amor sofre ameaça
e uma cadeira balança sozinha no quarto.
Saudade do primeiro beijo que dei
dos primeiros toques sobre meu corpo
meu suor composto pelo meu próprio prazer.
No meio de tudo o tempo.
No meio das coisas que vão acontecendo, muitas delas sem respostas,
mas nem perguntas foram feitas!
A vida e o desejo de mais vida.
O amor e o desejo de mais amor.
O segredo do querer assim
galopante sonho de ser deus um dia
e encaminhar meu destino surpresa...

sábado, 25 de dezembro de 2010

Ao mundo e sua falta de vergonha dedico o que escrevo.
A mim e meu espaço denúncias que não dão pão a quem tem fome.
Ao meu pouco medo de morrer, mas não fazer greve de fome
dedico o que chamo de versos.
Versos versus Realidade.
A poesia hoje mais que nunca é queimada nas livrarias
preenche corações que sonham pouco
e acomodam gente em poltronas de cinema colorido e rápido.
A literatura será brevemente substituída por coisas menos do que ela
importantes e vácuo.
Cérebro e coração não mais lhe pertencem.
Boa sorte a todos!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A culpa do amor é ele não existir em dois
no mesmo tempo
na mesma quantidade
intensidade massa e moléculas.
Precisa de detalhes mínimos
para que sua aparelhagem funcione até o vencimento
a validade de que outro amor surgirá em seguida
e eu não morrerei de chora de saudade e solidão,
ou raiva mágoa por ter sido deixado esperando
num cinema escuro.

A culpa do amor é ele ser tão fraco
e term dito a vida inteira que era ele
 o mais sublime sentimento
o mais importante e forte.
Mentira de todos, minha também
ter acreditado e reforçado a farsa que engana
os homens desde Adão e Eva.
A culpa do amor é ela não ser minha
e minha unha é roída pela espera incontida
do seu sinal de vida infeliz para mim.
Ouve-se o mundo em gritos
Pessoas se despem de si pela ganância diminuta
As aves são degoladas nos quintais.
As crianças cheiram maus
os cães tomam banho de sais
e o homem, animal doméstico do tempo hoje,
torce o nariz ao passar nas calçadas onde moram pobres.

Ouve-se música
Mas não há uma nota que tranquilize o homem morto de fome
que se reconhece no trabalho subelemesmo
cuja vaga foi dada pelos outros habitantes da cidade.
A música que não se quer ouvir, toca
o prato que não quer se comer, vem à mesa.
O mundo onde não queremos morar demole
e cava buraco para suas vítimas de bomba
balas e beijos.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Se me dissesses um adeus completamente
eu teria saudade dos beijos
eu teria medo da morte
eu cavaria um buraco tão fundo
que morreria dentro.

Se me negasses a voz
não saberia ouvir mais nossas músicas
nem leria os poemas que te fiz até antes de ontem.

Se me deixasses indiferentemente encima da tua cama
dentro da ta casa
esquecido entre as coisas do gurada roupa
eu mofaria de rancor e tédio
de desesperanças
de impossibilidade
e me gamarias toda a força que que resta para uma vida.

Eu sou teu tanto!
Minha voz salta seca e sem respiro
quando me anuncias a despedida,
mas sei que as dores de amar
iludem e passam
e não precisamos calça-las seguramente como quem pisa na areia
de uma orla já conhecida.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Não há uma história que se possa contar hoje.
As cabeças dos meus alunos parecem vazias.
Meu conhecimento: um éter em vidro destampado.
Uma sede enorme de suco de uva fingindo vinho.
Desavergonhada covardia de denunciar que eu estou no mundo.
O por-do- sol n'ao me faz graça nem me deixa emocionado,
há carros de mais na beira-mar para isso.
a areia branca me suja de tinta negra.
Plásticos me vem no lugar de algas
copos descartáveis denunciam o alcoolismo dos meus conterraneos.
E ainda me pedem um poema mais feliz, mais sentimental e mais romântico!
Ora, mas esses são os sentimentos,a  felicidade e o romantismo que me trouxe o
presente século sacal.
Uma vergonha de ver tantos habitantes numa cidade só,
mendigos sujos e fedorentos competem com perfumes comprados caros
e desviam o olham cego da burguesia sardenta dos bairros que fedem.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Hoje era ontem e depois de amanhã.
Meu carro fedia com meus desejos de sexo mais tarde.
Espero há horas no trânsito infernal da avenida Domingos Olimpio, grande escritorcuja homenagem foi um espaço urbano por onde traspassam pessoas vazias, em carros grandes e cinzas e pretos na maioria, mas não leram quase nunca literatura. Devaneio com a imagem de Luzia-homem seminua desfilando no canteiro.
O medo de mais prejuízos me proclama um ser humano mesquinho: mais gastos, menos dinheiro e uma sobra de infelicidade por meses adiante. Diante de mim fumaça- fumaça- fumaça, a briga por quem polui mais, quem gasta menos tempo e ganha nada. Uma futura noite mal dormida, de tres da madrugada às 7 da manhã, os ombros acordam antes que os olhos com muita dor para o dia inteiro. O enfervecido mundo que eu escuto da janela de um prédio vazio cheio de apartamento, dois por andar, respectivamente aos carros. Um medo de mim, de sair outra vez para o dia impreciso da semana. A espera por dinheiro, por acontecimentos que desencaminhem algo a mais, a fuga das gripes contínuas no Planeta Gás Carbonico que roubou a orla belíssima de minha cidade desde os anos setenta.
Viro-me de um lado para o outro da cam, o mundo: dormindo ou não, me inquieta e abre-me portas, rasga meu travesseiro, os bares estão lá esperando-me no fim de semana. As mesmas pessoas guardam suas alegrias no samba de domingo, no copo de cerveja quase quente num calor de dezembro cearense.

Creio eu que já morri e não me disseram, dirão quando morra outra vez. Muitas vezes a gente falece de tudo, menos de fome. A dor de cabeça é um detalhe diante dos tumores intra-alma que nos vão crescendo por toda a vida e nos assassinam após uma metástase de meses.
O dia termina, o ano e a vida toda de um pedaço de tempo desaproveitado. Queria ter sido algo mais importante para mim, mas fui para outros e nem me deram um salário mínimo, recompensa.
A noite chega e a certeza de que todas as coisas se repetem no mesmo disco, no mesmo lado, no mesmo endereço que somos.

conversando com sívia moura no facebook pela primeira vez,.Aí saiu poesia!

Essa dança que nos circunda tanto!
Essa inquietaçãod e mexer o corpo a toda hora
A boca que já não dá conta do que se quer gritar.
A dança- protesto
A dança-política
A dança-epifânica
A dança-dança
simples estímulo de um dentro que se desloca fora
o medo de não caber tudo na gente.
O medo do que falta ou sobra.

Muito feliz por existir dançando,
chorando, comendo, amando
um processo até quando!
Beijo

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dentro da palavra,
abra um sentimento.
Ela tem por dentro algo eficaz para as dores,
flores.
Não abra sem que se permita dizê-la antes!
Sinta que se exije com ela a vida
E grite antes que durmamos pela primeira vez.
A palavra se encanta quando dita pela boca.
Canta os versos e faz poema virar sentido.
Palavrano avesso, por fora, é tudo igual
Casca nobre, fruto podre ou vazio de sentido,
a ideia tá sozinha na cabeça!

domingo, 7 de novembro de 2010

O dia grande da semana
a hora morta do sono
quando me abraça o corpo pelos pés
O café esperando nossas bocas
os afazeres que sobraram da semana.
o poema ainda esperando papel
o beijo rápido de despedida na manhã de todo dia
as compras baratas e caras
os espaços longes onde tiramos fotos e fomos juntos.
o perigo de outrora
a possibilidade da separação
o medo da saudade
a negação de sofá e cama
a falta de sexo nas veias e cabeça.
Amo-te pelo instante do tempo todo
quando somos reais, parecidos
ou quando propositalmente a vida nso fez diferentes.
Quero-te pelo tempo que as coisas são
pelo tamanho do grito que pode me escapar no desespero
e sou viviado pelas conversas e chateações que fazem do amor
essa verdade mais real
Não, a dor não toca o amor.
O que toca é o beijo
A lingua danada nos poros suados
o suor e o escorregadio sentimento quente.
Não doeu nada em ti a ferida que abriste em mim para sempre.
A que te fiz é sana
era verdade
feita pelas facas da minha traição certa
do amor que habitava em dois.
Onde moro? Em algum lugar em que me perco dia a dia.
Não sabias nada, nao sei ainda.
Não amavas, não amava.
Era um labirinto de música e pinturas, livros, fotos, flores e indignidade
pobreza de sentimentos quando não se tinha nada para sentir.

Maquiavelicamnte preparaste um túmulo um ao lado do outro.
Flores escuras envolveriam meu e teu corpo
Um vaso vazio de mentiras seria o purgatório ao que me condavas
e eu te lançaria no mais tradicional dos infernos
ao que diabo te levasse primeiro.
Hoje me redimo da criança que fui, maléfico
esqueço de quem foste, mesmo lembrando para escrever algo
que me santifique neste instante.
Busco-me nas palavras, as mesmas que te disse
agora desditas são salvíficas e redentoras
A mim e a a tarde de um dmingo em que Dionisius me espera
e meu coração não possuis, não te faz falta
nem sequer na recordação de um papel amarelo
envelhecido pelo tempo cavaleiro supremo do olvido.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Leio todo dia Ferreira Gullar
lembro sempre um trecho de Rosa
Me atormento com as frases de Clarice
Me embrago com Drummond e vinho.

Converto-me em ateu com Murilo
Escandalo-me com Piva
Fecho as portas ao amigo com Rodrigues
Viajo na consciência de Ramos.

Enxergo literatura no motor do automóvel poluente
descubro um verso no papel sujando a calçada estreita
Vejo rimas na desigualdade social do meu país
mas não mudarei nunca o mundo com a poesia
esse mundo que dizem ser meu
mas que nunca me apresentaram com beijos saudáveis.
Sou um errante na natureza artística dos edificios feito por aquitetos burros,
que engoliram dinheiro e vomitaram concreto de 30, 40 andares pela
beira mar de minha cidade natal.
Sou um eterno revoltado por morar bem e negar esmola para o mendigo mais infame
Sou um pobre coitado prestes a morrer de medo da janela aberta
de casas, carros e cofres públicos.
Eu não acredito nos jardins suspensos,
nos poemas de Jó
na cruz crucificada
na auto-ajuda
na não-literatura berrante
no presente desconexo
no futuro bêbado
na criança orfã
na amante apaixonada
no namorado feliz.
Eu não acredito no nada
muito menos no tudo absoluto.
Na amnésia alcóolica
na transcendência do poema.
na dança feita dentro do quarto
no menino amamentado
na mãe incondicional.
Eu não acredito
e sei que é o segredo de que as coisas existem
e preciso continuar a viver e descobri-las.
Do meio do meu dia surges,
és tão amável com tuas preocupações
que me escureces de pena!
Os olhos enchem-se de repentina tristeza
quase toda a semana passada
e em perguntas se eu sei ser triste.

Amor é frequencia de espanto
do descobrir-se amando.
Fazer uma leitura piegas de Neruda
saber de sua sábia poesia de amores
conhecer suas casas azules cheias de mar
e viajar na cama guardada de toda experiência juntos.
No amor há uma febre de calafrio
no amor há uma tosse tisica
uma caimbra musculosa
uma afta dolorida
um estomago vazio corrosivo
uma carta sem muito que escrever.
Há no amor instantes de não-amor.
  
Vida vencida pelo dedo afiado com a palavra.
Paixão pela literatura marginal que me erudita
Vicio de beijo e sexo das mãos.
Um dia sem rima
um dia sem copo
um meio-dia sem olhos para ler.
E esse instante de esquecer do passado robusto
do idioma falado sem truques
da autonomia do texto repentino.
Segredo de criança já crescida
livro enfeitando a estante da cabeça empoeirada
cabelos brancos crescendo por todos os lados
como se fora anteontem.

Mas meu sequestro é fortuito
O dia amanhã me chama aos gritos
a gaveta se encherá de novo dos papéis guardáveis
e meu silencio se fará na madrugada quando só o cão ladra meu presente importante.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Interessante!
Hoje escrevi três poemas,
nenhum de amor
nenhum político,
nenhum metapoema,
escrevi muitas coisas que chamei juntas de poemas.
Na verrdade, o que sentia ao escreve-las
e o cuidado para que cada palavrra dissesse
é que decidi nomear poesia.
Ler e escrever poema é uma questão de escolha
de ideal de vida
divisa arqueada sem que ninguém perceba.

Um dia visitei amiigos que disseram ver poema nos meus olhos.
Mas é claro, eles ficam e miopiam
apoderam-se também das orelhas lingua
perna, mãos e olfato.
Tudo se torna no corpo, dentro e fora, poesia,
porque clamava antes atenção e maquiagem
e já eram nossos todos os versos lidos depois e outrora.
Vi-me no espelho do quarto e consegui ver nos membros os versos
e estrofes que me organizavam no mundo e me faziam dizer e rimar

TATEANDO

                    rufino tamayo

Alça-me a dor da menina perdendo um corpo
O mundo não gira hoje para ela
o dia passa longo pela janela branca
e o cheiro de deformações insultam suas narinas.
O consolo quer ser ouvido
Não há nenhum poema que me mate ou redentorize no momento
Não tenho cruz nem salvo almas
Meu pecado é ser inútil nas horas rubras da vida.
No meio de tudo
os seios maternos choram o ventre que pariu o presente sofrimento
O choro do pai no canto escondido
esbelta a vida que iludiu o para sempre.
O fim da tarde de domingo convida outra vez
a morbidez, o pranto que escure de  nuvens esguias o céu daquele dia.
A árvore no meio da caatinga suntuosamente sobrevive.
A pouca agua sulcra suas raízes e lhe salva do mundo seco,
das pessoas secas,
do barro seco.
Meu coração, não
se árida pela falta de líquido nos olhos,
pelo excesso de dor dos outros.
Pela subtração da alegria e supervivência com a solidão, irmã idosa.
O caminho do sertão é longo, grande, claro e cheio de pássaros escuros.
As pedras gigantes de Quixadá
lembram-me que viverei talvez oitenta anos
e continuará lá a rocha de que meu coração não é feito.
A vida é a essa experiêcia letal
os dias nos apressam as experiências logo
e nos reserva flores e ataúde.
O tempo é esse companheiro sátiro
que deu rocha à montanha e músculo ao meu corpo insano.
A poesia não precisa do silêncio.
A Pallavra existe sem ortografia.
Sintaxe é o aprisionamento de fato com que regemos as combinações
não há regras para falar e às vezes no mundo
não temos o temos o que dizer.

A palavra salva e sepulta a si mesma
sobrevive as cartas de amor dos mentirosos
e esfaqueia o estômago do ditador tirano.
Houve um tempo em que ela era o centro do universo
e hoje a fazem objeto de museu ou canções sem tom.
Valeráum dia ouro em pó
mas enterrarão seus significados sem gramática e dicionário.

domingo, 26 de setembro de 2010

Há no amor uma espécie de pedra
de rio, de árvore
de caminho
de olhos
de corpo
de água.

Há no amor uma espécie de felino
de quadrúpede, de ave,
de réptil, de mamífero.

Há no amor
uma espécie de armário, de louça
de quadro, de vaso, de cadeira de balanço,
de sala, quarto cozinha e corredor.

Há no amor uma espécie de coisas
que ao memso
tempo alimentam, abrigam, banham e adormecem.
Mas no amor há também uma porção de fome
desabrigo sede e insônia.
há na poesia o que falta no amor

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Não me traga flores
Não me deixe cartas
feche a porta por um segundo.
Não leia meus segredos
Não deixe de amar como me amas.

A noite, amor, é inteira para e não dorme
Aos que vigiliam
ela é amante e pertuba,
a falta de nuvens esclarece o seu negro
e os poemas são flamejantes por trás do coração.
Não me quieras dormindo,
queiras teu corpo dentro do meu
como sempre e outrora.
Feitio de uma vela acesa quando menino
acende apaga, acende apaga
e fenece pelos dedos brincantes.

Vamos à cama, nosso encontro final e permanente
confesionário onde choro e confesso
onde finjo onde penso onde não duro
e te amo no espaço do teu lado.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Parei para escrever um poema que não queria ser escrito.
Na verdade não sei se ele não queria
ou eu é que tinha medo de encara-lo.
vacilei por dois minutos e pus a mão encima do caderno.
O papel se fazia escuro
embrulhavam minhas ideias e nehum sentimento, seuqer nu,
para me volver melancólico ou embrutecido.
A poesia miserável era o que caia dos dedos
pedindo esmola ao amor,
raiva, rancor, ódio de ti e de teus amigos
de tuas compras
de tuas aquisições fiannceiras
tuas viagens vertiginosas
tua vida feita me realizações e crenças.

Amor ao teu sexo rotineiro
a tua voz me acordando tão devagar
o teu toque e tua agonia em esperar por mim.
Tua presença tao forte quando estás ausente
muito tempo resta para eu um ser contigo.
Sobram em mim amor e ódio e é por ti
despediço horas do meu dia
das minhas horas, do meu mês
amando-te e odiando-te
como um amante e um inimigo perfeito.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Do lado do mar, amor
do outro lado tem teu nome,
tua casa
tua viagem
tua verdade absoluta,
minha menor certeza.

Tempo de agua salgada
desliza sobre a vida desertada.
Tua imagem emcaracol nas pedras
espelho rustico fossilizado.
Espero com as ondas querendo-me molhar
imagem da vida que promente muito
mas enquanto espero tua volta
tu já mudaste as velas
e ancoraste em ilha pacífica.
Meu mar não permitiu tua parada
e não deixaste sequer uma lembrança.
As sereias não me trazem nunca
um canto teu na madrugada.

domingo, 19 de setembro de 2010

Nijinski

trocadilho
poesia em vez de rima
reivindicar palavras novas
precisamos menos de derivações
viva o primitivismo
a experiência anterior a todos os sentidos.
o primeiro nome
o primeiro beijo
o primeiro copo de agua
 o primeiro rio
o primeiro livro
o último amor.
a lembrança do que não recordamos
é a mais absoluta forma de ser.
Não ser é um direito de todos
não ser profissional, não ser ninguém
em algum momento é uma questão de sobrevivência.
Depois disso, só esperar a vida
e o suicidio rotineiro das pequenas satisfações sociais.
O sucesso na vida, no trabalho, na familia
e o fracasso de não ter conseguido não ser aquele dia.
A dança limita meu corpo
a dança em mim cede e excede
me faz fracasso e força.
Fome, sede movimento e queda.
há um deseuilibrio em cada marcação
um desafio ilimitado em conseguir não ser perfeito.

O corpo é um baú maior que pensamos
nele se guardam todas as quinquilharias
os passados palavras
os passados dores
os passados músicas
os passados raivas
os passadospaixoes
os passadosseparações
perdas, mortes, sonhos e suas variantes íntimas.

O corpo como possibilidade de perda constante,
de saber que se ganha com isso.

Comecei o balé depois que a dança em mim já era vida.
Comecei um movimento no prirmeiro dia de embrião e
desde lá vou levantado e caindo para dançar melhor
para provar que há movimentos possíveis
que há amputações que não se pode medir
que arrancam nossas pernas e braços e estomagos e
ouvidos e audições e inteligência
sem nos pedirem total acordo,
e que a nossa dança se faz disso
ou das faltas:
dança-se porque a falta excede
e que por não sobrar nada
reivindicamos o principio de tudo a todos.
Ele acredita que a terra não é de todos
que não se vive em abundância
que pai e filho se matarão no fim dos tempos.
Ques os seios secarão o leite
que o semeador colherá pragas
que não haverá um livro da vida
que os homens guerrearão
que o mar tomará tudo que foi dele
que as praias serão uma remota lembrança
que víbora e coelho,
lobo e cordeiro nunca dormirão juntos,
a paz foi uma filosofia gasta durante séculos
que a ditadura é o real sistema de governo
e que todos foram famintos um dia nas suas vidas.
Ele acredita que é preciso acreditar no infortúnio do futuro
e que o presente é uma questão de estar vivo ou morto.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Você me diz que não tem tempo
que não te dou flores
que nunca mais fiz poemas
que não sou mais o de antes
e todos esses clichês chatos dos ridículos amantes.
Eu te digo para viver
te digo para sair
escolher outros lugares
fugir comigo
comprar coisas desimportantes
viajar sozinho, com amigos.
eu digo, você não me escuta,
mas ama como quem não sabe o tamanho
e dorme como criança protegendo teus pés no meu.
e pede beijo
e faz gracejo,
piadas repetidas
chora de coisas antigas e guarda
muito que nunca me diz.

Eu e tu , o que será dessa borboleta?
será  uma lei absoluta
um medo de não cumprir
de fugir de sair do outro
um amor de louco sereno
amor que abraça
fica longe
volta
fecha a porta, compra poemas feitos
quer publicar meus livros...
Amar é só um perigo!
Risco desejado no papel do corpo
e eu, no fim do dia, morto
com pouco dinheiro e torto de sonhos...

Meu amor é para ti caballero
quixotesco
de dedicatória ilegível
e várias páginas indescritas

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A palavra olho
botão
barco, plástico
português
língua
frasco
a palavra braço
cintura.
A palavra me mistura
quero pronuncia-la antes de falecer
antes que se percam
que morram se digam.
A palavra PALAVRA
a mais bela
surrada
amputada
sem acentos
a palavra PALAVRA  séria e abusada.
Não sei se é minha vontade de ser poeta
que esse mal-estar me deixe preocupado com uma coisa assim,
e não me faça lançar meus livros da estante.

a palavra nasce cresce reproduz e não morre
a palavra socorre, foge, chove e engole.
Farsa cotidiana de cada dia.
Meio morno o coração duvida
segue seu caminho torto
submete-se ao corpo,
verdadeiro dono das escolhas.

Leio minhas páginas, minhas linhas
confusamente salto pelos capítulos e negou mromance donjuanesco.
preciso escrever poemas concretos e realistas
versificados com compassos e réguas
rimar retilineamente
nada de sentimentalismos
sinestesias improváveis e tentativas de melodramatizar coisas pífeis
como os beijos que te dou, que te dava
dentro dos pensamentos sujos.

terminarei o dia
sacrficando-me mais uma vez
resvalando pelos extremos de meus dedos
confessando veladamente minhas vontades vencidas.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Meio-termo


Composição: Lourenço Baeta / Cacaso


Ah! Como eu tenho me enganado!


Como tenho me matado

Por ter demais confiado

Nas evidências do amor
Como tenho andado certo


Como tenho andado errado

Por seu carinho inseguro

Por meu caminho deserto

Como tenho me encontrado

Como tenho descoberto

A sombra leve da morte

Passando sempre por perto

E o sentimento mais breve

Rola no ar e descreve

A eterna cicatriz

Mais uma vez

Mais de uma vez

Quase que fui feliz



A barra do amor é que ele é meio ermo

A barra da morte é que ela não tem meio-termo
Não desperdiçe a palavra!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Tu gostas de animais
do que há dentro deles
do que as plantas precisam
do que elas podem dizer...
tu não escutas sempre meus poemas
e eu os digo e dormes
e eu eu eu
é o pronome que me vicia
que me auto estrangula e coloca o pé junto a ti
toda noite.
Quando viajas
as plantas, as músicas
os espaços se arrumam como se estivesses sentado
cheirando a flor e ouvindo Elis
e caio na solidãoda cama larga,
sem mar e sobrando panos.
Uma canção desesperada
espera-me do outro lado
quando me deito
finjo dormir e a vida estica os dedos e estala forte
penso no que fazer depois de lavar as coisas
e arrumar o quarto
e ouvir música
e sair com amigos.
Saio da cama como quem derruba árvores.
desmaio no corredor para que algo me sustente
a vida mesma, essa promessa indevida.
Ensaio todos os dias o que vou ser
repito em notas agudas e graves meus erros
como quem alcança o tom inaudível
busco perco faço e saio
não nesta mesma ordem de desespero de ser
mas na ânsia de querer sobrar ainda algo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

“ Aquele que mente a si mesmo e escuta sua própria mentira vai ao ponto de não mais distinguir a verdade, nem em si, nem em torno de si; perde pois o respeito de si e dos outros. Não respeitando ninguém deixa de amar; e para se ocupar, para se distrair, na ausência de amor, entrega-se as paixões e aos gozos grosseiros; chega até a bestialidade em seus vícios, e tudo isso provém da mentira continua
  a si mesmo, e creia-me é por vezes bastante agradável mentir a si mesmo.”
Dostoievski

sábado, 7 de agosto de 2010

um poema para falar da vida e sua urgência
o relógio de cordas avançando os acontecimento e nos ternando feios
pele osso membros
tudo se putrefa debaixo da terra
por enquanto se quebra
assim como os desejos abandonados por obediência.
Um poema para falar do agora e sua imprecisão absoluta
o pré-vida e o pós-morte
frustradamente explicados por religiões estúpidas do mundo inteiro.
A ideia de Deus incutida e sufocante
bobagem criada pelos fracos
certeza dos fortes mártires extintos.

Um poema para falar do amor e sua efemeridade
o avesso dos poetas
a certeza de que sexo e paixão fazem mais parte da vida
do que todos os familiares.

Um poema para não falar de nada
para se inventar e sair da palavra
.Escorrer pelo corpo e impregnar feito suor
absolver a culpa do verso manco
e da rima sem acento.
A poesia desmistifica o óbvio de tudo o que foi dito anteriormente.
Assombro no amanhecer
depois da noite falecida
o sol já se finda e a minha alegria
é passagem
Vago, de uma substância aparente
Escrevo por encontrar um labirinto.
Nele, todos os dias satisfaço-me na procura meticulosa
de esquinas defeituosas
passos muletados
barulhento,
odeio meu caminhar!
Construo muros mais espessos do labirinto de todo-dia
 nao olho o outro lado
nao enxergor mais do que o muro alto
o desejo de alcançar além
e destruir a ideia de céu inferno.
Um lirismo de Baudelaire sapateia num espírito pós-moderno.
Beijo em Paris o frio de janeiro
e o cinza de outubro
O amante arranjado para dias
 jeparle, yo hablo,ich spreche
falo tudo que cospe o meu passado
e penso confessar o segredo que desconheco.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A tarde de um domingo sem ventos.
O sol posto é quase eternidade.
A semana que promete: serei o mesmo em 7 dias?
Não há como desfazer rotinas
desabotoar roupa e calçado sair disfarçado ao trabalho.
O horizonte do tamanho de uma janela me limita os dedos
não sei tocar instrumento, tomar um café,
mas se pudesse seria  violino ou cielo
cordas me diriam mais que  teclas
parecem-me com dor, falta, busca;
angustia de encontro indesejado.
O livro abre-se nas mãos e as letras soltam sulcro palido
nada dizem do que esperava
a novela de cavalaria, no vigor do pleno século
seria mais interessante no fim do dia.
Beijo minhas mãos e ponho-me o crucifixo
queria estar em tábuas
em cama esticado e  sem sorte
dormir uma noite inteira sozinho
ter medo de sonhar e não ser mais o mesmo.
Não seria assim
não fosse tremendamente oposto
frágil
vidríco
acrílico
bombástico
cristal sem rima.
A procura de uma canção com versos fortes.
Sede de água mesmo,
de banho quente
de masturbar o corpo
de flagelar sentidos e dizer adeus para mim.
Não escrevo cartas faz alguns anos
no máximo dedico bilhetes curtos em flores acompanhadas.
Flores para ataúdes e aniversários
perdas de parentes fecundos
e minha arte em estado vegetativo
explodindo em mim, dança.
Sou um copo sujo na calçado
sou importante e pequeno para mim
às vezes rei, pirata,
tesouro ou merda.
Sou alguém gigante
que se esconde em formigueiro
por inútil.
Ando por avenidas estreitas
covardemente tirando paz das vidas
que assoberbam meu espaço
me degolam de calor
e conversam tonterias.
sou eu mesmo que reclamo para mim a condenaçãod e ser gente
e viver meito bicho solto e arredio,
todos mordem, envenenam e não são
nada, nem eles mesmos por instante sentado na cadeira,
esperando o que.
Saberse yendo
saberse ido
estar es algo como una flor que huele y se cae.

Me voy porque la risa se muere
la vida ya no late
y mi canción es corta.
No hay ya culpas
no hay beso
no hay cama
pero hay poemas
hay nostalgia
hay recuerdos
rosas muertes
y promesas olvidadas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Palavra desencanta a gente
decanta e divide o estado de coisas
desfigura carne e alma
flagela coração e ventre
ventaneia e causa dó
Impluma a pele
descasca os pelos
escreve e apaga
apaixona e odeia
palavra é algema e asa
É poema-ofensa
É densa,
mesa
Toalha
água e uma saudade desconfortável

palavra nasce morre e se eterniza
vez em quando desfalace, banaliza
não serve um copo, uma taça e não serve
pra nadar.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O amor vacina a gente
o amor vacila
encapsula
algema
luva
cadeia
cadeira
poltrona
cama e travesseiro
no amor tudo é sinônimo
vergonha descoberta
intimidade adentrada
sentidos concentrados
ensimismados
vegetarianos e carnívoros
no amor se come de tudo
se bebe café e cachaça
pão amassado
fracasso e sopa
suco vermelho
maçã do maor
roda gigante
o amor é brincante
vaidade
ilusão expectante
medo e desafio em corda bamba
o amor samba
desgruda e entra
arromba
amargura
canta, dança
vacilavacina a gente.
Niguém faz poesia para se conter
ou para contornar uma situação
Se faz poesia porque se precisa de alguma maneira dizer o que não somos
como ou quem gostariamos de amar.
Ler um poema é mais bélico que ouvir Mozart
é um suicidio confiscado
uma morte lenta e perfeita.

O poema existe em palavra porque antes o tivemos um carne e mente
porque o beijo foi dado
porque o sexo foi feito.
E eu nem me importo se consiguirei escrever algo
há alguém que dirá algum verso por mim
e o dedicará os finados amantes e futuros arrependidos.

sábado, 17 de julho de 2010

Drummond disse que seu mundo era grande
meu amor, pequeno
vejo que a todos que deseje da-lo ele se desfara
farse-a um desejo de come-lo cru
e vomitalo seco com dores na garganta.
Um frio escaldante fura a sola do pe
e eu me vejo longe de mim e de todos
sem amor, sem danca, sem vida que me leve p o ceu
aquele da catequese simples de minha infancia humilde.

Vida versus verso
e eu escrevo um poema para me comprazer da dor
que me sai dos olhos liquidos
fecha-me a boca e sufoca-me dentro do quarto desconhecido.
tudo o que e carne agora morre folheando o chao
nao tenho acentos nem palavras
coracoes capitalistas vazios me acompanham no onibus
ninguem e ri
a natureza morta se manifesta no mau cheiro ao lado
almas fedemn
pessoas atravessam a rua sem olhar algum que as sigam
e sozinho me prontifico a desejar a morte de todos.
Aqui o mundo nao me tem sentidos
nem boca nem paladar nem tato
um planeta feitos deles
sem mim
eu sou outro
o que nao me achei ainda
linguas se atravancam
e nao dizem uma so manifestacao de paz no coracao ufanista
todos sao daqui, ninguem se aceita
fogem de metro, trem e taxi
tudo e caro
e eu nao valho nada diante de refrigerantes descartaveis
acompanhado batatas que nao matam a fome do mundo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Passaram-se os dias
folhas caídas
chão sem rios
copo sem alcool
medo da vida.

Tomaram-se as línguas
beijaram-se os mamilos
comeram-se na carne.
O minuto era carente
as portas fechadas
o retorno pródigo
o vício das cartas.
a saudade imensurável
clamava visita
a lista de planos
moída pela real cadeia
a areia vermelha sujando os pés
e a intenção que era perder-me.
Não, eu não fui inocente.
sou quem disse e não cumpriu
quem disfarçou a partilha
e engoliu o nó da garganta.
O pó do tempo saindo das palmas,
.agora.
a morte tentada
soluçando na aorta, descendo no seio
arrebatando p o inferno
meu silêncio e essência.
UMA PALAVRA
(Marisa Monte, Carilinhos Brown e Arnaldo Antunes)

cama
garganta e água
gargalo e lábio
baton e língua
flama
lama
como quem ama
uma palavra
beijo e gengiva
ar e saliva
riso e comida
chama
clama
como quem ama
uma palavra

terça-feira, 29 de junho de 2010

Construção

Deus mora no mar.
a mãe d'água na areia
o saci no avião,
o caipora na prisão
e os anjos num quarto escuro.
Deus come goiabas quitadas do pé
Yemanjá calça sandálias pretas
e Iara estirou seus cabelos na asa da Jurema.
Iracema correu pra Índia,
buscou Alencar por lá e nada viu.
Fez Kama- sutra com um africano raivoso
e deixou o mel em lábios Acres.
Quero um mito de Orfeu,
eros pro meu sexo em desarticulação.
Vou tocar a harpa desafinada do amor platônico
vou desfazer os mitos que geraram poesia até hoje.
Quero encontrar o poema que se esconde detrás da história da arte
dos contos clássicos, da poesia sacárdica, bancarroca e dos parnasiânus.
Vou entregar meu livro à Academia
e dar autógrafos ao Coelho.
Vou fazer sucesso na esquina tomando cerva
e fumando um puro falsificado.
quero ler com os garanhões e prostituas que não comem nada
vou buscar o verso no reverso de onde dizem estar
quero inspiração no sentido oposto, no pulmão esquerdo
não me contaminarei dos cânones dos cães europeizados
americanamente.
Quero escrever como na idade da pedra
lascado e sem ritmo
pulverizar as idéias herméticas que metram    no cérebro da poesia.
Nunca escreveram um poema pra Deus!
Resolvo agora dedicar-lhes esses poucos versos.
Tudo é pouco para quem se diz infinito.
Confesso meu nome
que me chames pelo apelido de adão e eva
quero ser antes e depois
para sentir agora a punhalada que me causam os prazeres.
Quero ter dedos, mãos e voz
ser um david contemporâneo
te dizer versos, cantar e dançar
no meio do mato escuro, na beira dorio
ou de frente pro mar, teu espaço preferido.
Quando criança aprendi a contar os dias
as noites eram curtas no meu sonho.
Os dias cheiravam às férias no sertão
aos medos de sapo
aos banhos em açudões e mares.
A infância gerou-me brincadeiras e choros
quase ao cabo da segunda meninice
o sangue jorrou do meu joelho
e eu me vi no espelho
dias depois
megrelo careca e feio.
Banalizado em hamacas tingidas no vermelho
de plasia que me tirava sangue e vida.
Desequilibrei-me desde então
dentro e fora
em cadeira de roda
e a escola era meu espaço de fuga e vergonha.
Aprendi rápido que a vida é um fósforo queimando os dedos
que sobram cinzas a cada momento mastigado
absolvi o cheiro das coisas, a velocidade do amor
o som da flauta e a breviedade do poema.
E a memória do que fui nesse tempo
é a própria vida gigante dos olhos caindo.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

há um livro que nos dirá tudo.
As verdeiras histórias estarão nele.
escrito com pena e sangue
com músicas de noel ao fundo
e  páginas passando como o dedilhar no bandolim.
lendo, os sobrevieventes desde Adão
correrão à última ponte e lançarão antes do corpo,
as cartas, os lençois, a memória do cheiro natural
e os adeuses malditos e saudáveis.
Da garganta sairá um sangue tisico último
num suspiro uma frase mórbida
de que nem tudo vale a pena.
ELE DESCOBRIU QUE A NOITE É MAIÚSCULA
QUE OS SIGNOS ENGANAM A TODOS
QUE AS ESTRELAS NÃO BRILHAM À NOITE.

ELE DESCOBRIU O SEGREDO DA CHAVE,
OS SETE SELOS
O CADEADO DE DOR QUE DETÉM O CORAÇÃO.
E O CHÃO FUGINDO DOS PÉS.
QUE OS CALCANHARES DESISTEM NO MEIO DO PASSO INFIEL
DESCOBRIU DESGRAÇADAMENTE QUE A PALAVRA ESCREVE A ELA MESMA
CONCORDA EM GÊNEROS E NÚMEROS PARA DIZER DO INFINITO
QUE O POEMA É MONÓLOGO SOBRE EL MESMO
E NUNCA TERÁ UM VERDADEIRO SENTIDO

domingo, 27 de junho de 2010

Vivo da ausência do meu corpo
ele todo não existe
mas o sinto como se inteiro fosse meu.
Ando sem pedaços de mim
sem a perna externa e interior que arrancaram
da vida que me amputaram diante dos meus gritos
de blasfêmia
e meu medo desesperado deitado.
Cãimbras, puxões, choques, fisgadas
minha mãe sem mãos
meu pai sobrevivendo dormindo.
Madrugadas de ilusões perdidas
mendigava viver mais
vomitei noites e noites e noites
e tive pena de mim
muita pena
e nada mais infâme na vida do que ter piedade dela própria,
mas só eu poderia fazer isso
sentir que sem mim o mundo se revelaria o mesmo
os poemas de agora não se escreveriam
 a vida não teria mais horas.
Ter um câncer é tão cruel quanto escrever um poema
não se vive mais em paz depois que se escreve.
E se um tumor cresce por acaso anexo em parte do ser.
O pior é sabê-lo!
Tomar em doses cavalares a química de um líquido
que quiçá nos assassine as próprias células rebeldes
de nós.
Glândulas, nódelos,
plasias, plaquetas, dores, desfiguração do rosto
dos pêlos
das ânsias, dos vômitos , dos medos
da vida que se faz urgente
das pessoas não entenderem nada
e terem medo que tudo um dia...
escrever poema é como ter um câncer.
Gosto de ler poemas para outros ouvirem
se pudesse leria para um público de 6 bilhões, o mundo inteiro
ouvindo a minha voz ritmar o verso, interpretar dos outros.
As vezes meu público não existe
mas eu sei que a poesia quer ser dita
precisa ser
tem...
Mas quase todo dia não há ninguém
então, leio para mim mesmo
ao menos que seja um versinho só
uma frase de pacto com a palavra noutro sentido
Vou até qualquer canto
sento, deito, banho, e digo
mas não há mais um dia sequer que eu não fale o poema
que eu sinta o poema
que eu veja o peoma
que eu chore, coma,
sacrifique, goze o poema
e nunca consigo matá-lo antes de dormir
Impressiona-me a vida com a madrugada.
A santidade que transfigura o silêncio
O medo da morte.
A vida dilatando seca
sangue correndo nas veias para quê?
E o sentimento fino de que as coisas pesam.
Que não há dança que solucione o mundo
nem música que supere os motores.
Há, sim, uma viagem esquisita do cotidiano
que nos carrega do medo de menos dias
Viagem sem volta para o escuro do nada
A existência empalidece quando pensa um ataúde.
Viciei-me na vida,
escrevi poema
desejei o mais absoluto de mim
e não alcancei o êxito de ter asas mais compridas
de lançar de um penhasco meu corpo e alma
indesejável grito rapino sem eco e vibração.

terça-feira, 22 de junho de 2010

E contam-me desde criança que só o amor permanece.
Não! O que permanece são as palavras.
A poesia contida nelas, nas sua letras engarrafadas em sílabas.
É o meu sentido dado a elas,
o vício de escrevê-las sem necessidades que reticencia.
O desespero de contar cada coisa em verbos.
A palavra sim,  sentimento duradouro
é ouro em pó, em barra, em versos.
Labirito nostálgico de entendimentos cheios
Sede de uma água que corre do rio que só eu conheço
onde sozinho me banho, aonde ninguém pode me acompanhar.
A palavra  mais lenitiva que a rosa
matando mais que nazistas
destrói mais que a guerra, a fome e outros hobbies humanos.
A palavra é o rito eterno de quem quer dizer.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

atormenta

Escrevo poemas para levar açoites
Ter noites, dormida e acordada.
Leio de Lusíadas a Unamuno
Valèry e Lorca para
entrenter o minuto que balança na cabeçeira
e viaja deixando-me velho.
Pontuo minhas verdades.
A arte de escrever conforme às leis
da ciência mística e literária
consiste em ter algo para dizer,,,
Tomar do papel e expor o esconderijo da folha branca.
Nela já está escrito tudo,
apenas desenho o que em mim já é palavra ou seu desejo.
Todos os livros nascem de um espaço branco, liso
de métrica retangular e esvoaçante.
Assim, feito o papel que nos sai da mão,
o poema pode realizar-se.
E os tempos de Einstein e de anônimos científicos
não resolveram o problema da poesia.
Qual vírus, então, que ao longo de milênios
afeta os homens e os fazem epidêmicos
endêmicos, anêmicos de tanto sugá-los?
Desde que tudo era pedra
o homem das covaspintavam os priemiros indícios
de letras querendo fazer palavra e verso.
Lembrei-me (pauseio) de um livro que li
não sei o nome (enrugo a testa)
mas recordo a poesia nele escrita
eram como estrofes receitadas de música
de escândalos verbais
e lágrimas metafóricas.
Escrevo agora
com o único intuito de escrever
)não que deseje ser artífice(
todos já somos
é apenas uma questão orgânica
de supervivência para reger o dia
e suportar a noite.

Das necessidades imediatas

É preciso sonhar acordado
assoviar um chorinho inventado,
acreditar na morte
negar o espírito
seguir as regras
trair,
visitar enfermos
ir embora
matar insetos
protestar um dia
encher baldes de frutas
tomar um seio nas mãos
sentir a falta
fazer sexo
acordar tarde
estudar pouco
abandonar um livro.
Levantar e sair
não ver espetáculos
criticar um exposição
otimizar o tempo
digitar um texto
comer demais
dormir com alguém
excluir alguém
pensar no outro
pedir emprestado
roubar uma caneta
fingir que não somos
sentir asco
esquecer a bolsa ou o guarda-chuva
tomar banho junto
vestir-se de lama
olhar o mar
caminhar descalço
procurar vídeos
mentir de vez em quando
compartilhar amigos
cantar desafinado
ficar bebum
cuspir no chão
pisar a grama
andar à noite
esconder dinheiro
não emprestar
encher o copo,
dar um presente
desejar um ídolo
rezar para ninguém
ser você mesmo ou pensar que é.

Pintura- A Beleza do ser-para-a-morte. Roberta dCosta

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O ofício do poeta Borges me foi tomado da prateleira de uma sala de leitura hoje pela manhã.
Cedo tinha acordado por um telefonema fraterno e apressado de minha irmã mais velha.
Os irmãos tem uma quantidade de coisas que nos impacienteiam ou nos sensibilizam, um ou outro.
Mas não me imaginei quando havia acordado que às 9 da manhã um livro de palestra de Borges
me viriam corroer as mãos e os olhos por apenas 45 minutos, aproximadamente.
O título de um livro é sempre o que me chama a atenção. O autor também, mas nada como um bom título
para deixar as curiosidades efervecidas.
Pois bem, o livro foi pego e a sensação de já tê-lo lido era tão impulsiva como a vontade que me fêz anotar em papéis pequenos brancos as frases mais expressivas a mim e a todos os leitores que viriam ontem e que  vieram amanhã. A fome lembrada pela única xícara de café tomada me desviava a atenção daquele discurso fenomenológico ao que Borges me convidava. Nunca pensei lê-lo com tanta avidez e perplexidade. Não que Jorge Luis não me seja um dos pupilos escritores, mas aquela sim era a verdade escrita tudo o que já lera dele em outros livros enormes. Ali, em poucos minutos divididos a umas 100 páginas somei a esperança para meu dia.
A poesia é, não vende nem compra, não apaga, não borra, dá a luz despausadamente a ela mesma e escorre no corpo lírico das outras, dos seus sentidos que na poesia é bambo, vacilante, escorregadio, desconfiado e espaçoso. O velho abismo em que nos atiramos sempre ao ler, ao desconcertar a música dos versos e a repetir a leitura por uma vontade explícita, ma sinterior que nos faz alcançar uma páginas de palavras desobedientes da realidade fraca.
Sim, não há nada mais fraco do que a realidade, se é que existe, essa cápsula extracorpórea onde estamos metidos e a onde somos levados. Por que não a loucura, a embriaguéz, o ópio, o ócio, tudo amalgamado e sendo.
Não há coisa pior do que a verossimilhança creditada à Literatura, nunca foram tão injustos com ela, quando não sei quando esse insight tomou os manuais de literatura, a poesia subverteu a ciência que estaria por nascer e matar o que é poético: a própria vida, outro nome dado ao que chamamos poesia. Vida existe, sim.
Realidade é a nossa reação por não atendermos só em carne e osso o que é a vida na sua circunferência total e absoluta.
Arranca-se a carne
doa-se a urubus os sentimentos,
as palavras  não fizeram nada para morrer.
Busco na minha hemoglobina escassa uma cor diáspora
que me carregue de todos os que já fui.
Lanço-me no país esquecido
dentro do eu niilista que me tornei.
Amo as pedras, as mais feias e esquecidas
aquelas que o mar não combinou com sua beleza.
As pedras que nunca ninguém verá escorrer no rio
e ninguém tomará na palma da mão e levará ao seu jardim.
Amo o que é esquecido
o que é lembrado por fatalidade
o que é cuspido na mente e jorrado no papel.
Sofro porque a mim a tristeza é a outra ponta aguda sorte
da felicidade suicidamente diária da vida que me põe assim.

sábado, 12 de junho de 2010

Ao lado dormes,
do lado direito da cama.
São tantos os sonhos que não lembrarei nenhum para contar.
Viajona insônia que me persegue desde a infância
Sempre me considerei esquerdo nesse mundo de pessoas normais
e perdi o sono, não tive brinquedos caros nem pai rico.
Estudei em escola de povoado, tudo contado
caderno, lápis, merenda e a roupa de ir à missa aos domingos.
Vigilia imprestável faltar oportunidades na vida.
Conheci a ti, ainda conhecendo surprendo-me a cada vez que a vida
me presenteia com essa idéia.
E nós, tão diferentes,de nós e de todos, encontramos a divisa de um travesseiro.
No fim o coração, essas três sílabas que batem até a hora da morte
essa dor que devolve à vida o sentido que ela não tem.

cartas

as cartas se rasgaram no ventre da mdrugada.
A imagem que guardei do sonho foi dissolvida na lâmina do tempo-
os gládios da memória são invencíveis depois dos anos!
Não resta nada na verdade de cada dia passado.
Eram tantas palavras que pareciam manter-se uma biblioteca própria e guardá-las!
Bobagem pensar que os outros não lhes recorriam sempre , as mesmas.
Poemas? Sonetos? Epístolas? Envelopes trouxeram a desesperança de guerra
de desespero da morte, de quem pensamos ser algo.
Luz forte nos olhos que cega de repente e não se vê nada ,
não se consegue andar, subir, descer, nadar, olhar dentro dos olhos.
Há uma esperança apenas de se tirar a coroa de espinhos
e ressucitar dos mortos depois de um milênio.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

 Rufino Tamayo
La palabra camina a solas
escribirrepetirensilenciodisminuirelcaos
aumentarloscallossotenerlosbrazosalrevesdelcuerpo
caminarcommanosparaserdiferenteyvigilarlosdíasqueyasepasanhacetiempo.
llorarbajounacáidadeaguaoscurabñarseporfueraconlasangredeunanimalasesinadomear
todoloqueelcuerponoaguntaydespedirsedesimismoescondiendoseenunamanta.
E qual a virtude de um poeta?
É o amor só que o move a perder tempo e escrever?
A palavra é alma do poeta
nela deve estar seu amor escondido, impossível
generoso ou tacanho.
No papel ele despeja suas declarações à amante -palavra
que lhe toma coração, corpo e voz
sexo e orgasmo versificado.

Não há perante o amor
força maior do que o verbo que já era
antes de tudo.
A palavra, pré e pós-amor
pé da razão
veia do senso, da ínfima inteligencia que nos foi ordenada.
Não comprendemos que há mais que um alfabeto
que amor é uma palavra só dentre tantas que exprimem a cada dia
a maneira equivocada de entender os sentimentos.
Lamento! Mas não amem a palavra que se diz completa
pois nela está a completa desamplitude de si mesma.
E a descoberta de um dia como se fosse a vida inteira! Será mesmo tudo verdade nesse redemoinho de coisas, esse plano redondo  de gentes chamado Terra? Vale mais que tudo é saber que há o espaço de tempo entre acontecimentos lindos, trágicos e traiçoeiros: tudo a mesma coisa,  acontecendo em etapas, em vários círculos que, se pularmos dentro, vira uma brincadeira.
Mío

segunda-feira, 7 de junho de 2010

É dura a idéia da pedra
é pesada a madrugada cansativa
escrever quando ninguém me escuta.
A coruja, a umidade e a nuvem única
silencia o ouvidocom medo porque não tem lua.

A poesia é esquisita
não está no papel
do livro fugiu
do coração se esquivou
para o inferno se abriu.
A poesia não diz nada
Murilo Mendes está morto
e eu escrevos para as futuras traças
das bibliotecas homéricas que imaginei no mundo
 incendiadas na soturna insensatez
na obscenidade das bombas que em breve mandarão lembranças.

Vã intrepidez do poeta anônimo
que não vende livros
e nem sequer acha palavras que se pronuncie
Sonho tolo fazer versos
sobre o amor à revelia da humanidade
perdida, sífilis cautérizada, implodida.
Meu amor tem olhos claros
cabelos lambidos de amarelo
e sorriso debochado.
Voz aguda de infante
corpo descomportado.
Canta feito sabiá,
graúna canário
inquieto ele anda apressado
De tudo cuida com des-jeito.
É de Espanha
outros cantos não falados
de tempos de perda, de separado
Meu amor é pele só
fina, doída, beijo torcido
amiúde trocado
é noite agarrado
é dia, discussão e janta
é café televisão e planta:
meio um amor desarrumado.
Disseram-me ao longo do rio
que o segredo eram suas aguas dançando
que a chuva era ele voltando ,com saudade
que a pedra era  sua roupa,
os peixes, seus enfeites circulares.
Disseram-me na sombra da árvore
que ela sombreia porque é grande
que tem folhas porque tem caule
e tudo na vida
é tão simples como sentar ali, debaixo .
Disseram-me dentro do amor
que ele é duro, feio e forte
do seu centro sai mosquitos
que atormentam nossos ouvidos
boca e olhos
e  se nos toca deixará sinal de morte.
A vida é um quase morte
pouco a pouco desmentida.
É um infância perdida
brinquedos roubados
esperança traída.
A vida é guilhotina, foice
masmorra
cárcere imposto
tortura bandida
precedente irresponsável
de facada fria e fina
de libertade pequena e fraca.
Vida é amor sendo perdido
lágrima endurecendo
 perda e dor comunicadas.
É o pássaro que traz no seu canto uma notícia
e ao percebê-la
não houve tempo de ser querida.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O calor do meu cansaço
prepara o meu sono
ao teu lado já dormi todas as noites
e agora
durmo outras
mais serenas
minha e tua
nada mais
nenhuma criatura
vela um sono mais que o meu.

Toda a coisa doida
o dinheiro junto
a comida feita
a louça esperando suja
a toalha repartida
são retalhos de dois
somos mais
todo dia diferente.

Acendo uma vela
meu amor quer luz
os olhos na janela esperando
ver o avião passando e o céu
azul claro ou escuro
impõe seu tamanho seu tempo
e nosso grau de miopia para ver mais longe.
Toda palavra é santa
toda palavra canta
toda palavra é manta
é janta no meio da fome.

toda palavra sai morta
toda palavra sai torta
preta e branca
vermelha e planta

No coração do homem
toda palavra é sangue
na boca é tanta
nos dedos tântra
toda palavra é santa.

No principio não era ainda
era a idéia.
a miséria de ter q dizer sim
ou não: uma palavranta
inha onha muita medonha
uma palvra canta
entra, senta e janta
lenta, mantra tantas
as palavras são quantas?
A esguia faca cortando a mão do amor em guerras
a pedra, o rio desemboca nela.

A água que corre dentro de mim é mais rápida
mais gélida, mais farta.
Escorro entre rios de literatura antiga,
nova, pronta para mim
para deixar nos meus olhos seus indícios.
Mergulho fundo na página
no livrod a vida
na bíblia de minhas verdades decaídas.

Luz e fé,
amor, pé d'água cai nos telhados da minha noite
e eu, com livros na mão calo para as palavras
que elas sejam que elas matem
que elas gritem, expirem em cada gozo flamejante
da minah boca que pronucia seus goles de venenos.

Farta e falta
diferença alguma entre fazer ou não poesia
o rio corre e a poesia não é só do papel
é do relógio, do copo, do coração e da carne morta na ponta dos dedos.

A onda no encontrdo rio com o mar
é a certeza que tenho do destino da minha saudada
da minha maldade para comigo
para com outros
para com todos
Morro de saudade
e vivo da maldade egoísta no mundo que me ensinou assim.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Não há pesia quando a vida não deixa.
Turva-se a curva do papel borrado.
Palavras são só letras juntas à força
Poesia são elas casadas com musas
sentimentos abertos para dentro
a vida apetecendo um mais que não basta.

Quero a poesia  da pedra
do cacto
do grão mais acre
da areia mais fina.
Não tenho nenhum sentido leve
sensações pueris
submissão do amor.
Tenho sangue que talha o que estou sentindo
e o que sinto agora  é o nada
consequencia da anterior ganância
da soberba de amar.
Não cabe ao mundo sermos  muitos.
Deve-se escolher o mais mediocre o menos afável o mais sorrasteiro esqueleto
a desvirtuosa alma.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Amor de longe.....
Amor com ponte
forte fraco
feito relógio marcando pulso
com ou sem impulso
amor, forte
do jeito que a vida pede
não mede
não fede
grita, esperneia
criança, baleia
menino sereia,
amor é tudo junto
saudade do amor é dor em conjunto
Medo de ficar só
de dormir sem pé
rezar com fé
pra fazer poema rimar
pra fazer o amor se lembrar do tamanho
do perda e ganho de aproximadamente 1460 dias
contando semanas de prantos e feriados de alegria.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Sou um corpo pouco Alma.
Sopro de vida lamentado de mortes
Perdas e pedras caem das mãos
Há um lance de segundo.Escapa-me o instante 
Onde que me vagueio?
Ser poeta cambaleante
de verso frouxo e mole
Sofro de um mal:
Essa frutífera necessidade de me dizer as coisas.
E nada fazer por mim.

Meu nome é repetido em vão
Minha história é com tantas outras
Que o amor volta-se tonto e vacilante
Quero o gozo de agora ou nunca.
Carne humana
que se petrifica e putrefa desde quando 
a luz  trouxe a escuridão
desse mundo  redondo de esquecidos.





Meu olhar me frequenta todo o dia
Para dentro e para fora
leio meus cadernos escondidos na algibeira do m-eu.
Somos tanto que até falho em contar-me a outros.
Viajo sempre comigo diferente
Rio e choro, sem me dar conta que ambos movimentos são diferentes no rosto.

Sou quase sempre feliz em meio a ameaça da perda.
Secreto-me a quem vejo não dar importância as coisas pequenas
Alguém assim não tem confluência de si.
Remedeio meu passado
erro outra tanta vez
e saio curvado da desesperada
nomeação de necessidades.

quarta-feira, 17 de março de 2010

El suicidio de Dorthy Hale/ Frida Kahlo

Revivência.
Tendência obsessiva um pensar em reviver
 viver já se tornou tão comum nesse útlimo ano!
Ouvindo e pensando em reamar: a mim mesmo.
dizer para mim Eu te amo é coisa que há muito não faço, nunca fiz.
Quero escovar os dentes com cuidado
pentear ladrilhando os cabelos
acarinhar-me como a um infante em berço
tratar-me como muita estimação.

Por esses últimos degraus que andei
a vida contorceu-me o pé
encalquei-me junto com um coração.
Engessei-os em seguida de tal maneira que
saindo do entorno escuro e branco
envolvido
respirou e disse querendo sentir o vento
querendo respirar e voltar à antiga matiz.
Ah, respirar o sol e se queimar da água banhando-lhe os contornos confrontais.
Descobrir tanta coisa quando cai duzentos degraus e rompi o tendão miocardiano.
Queria cair mais vezes!
Todo mundo deveria cair mais vezes.
Apoiar-se no corrimão e resistir à queda não é muito heróico
o mais épico seria cair retorcido, dolorosamente voltar à posição de origem
ou à outra que lhe faça sentir com paladar
 olfato e com sabor das coisas diferente.
Inclusive o amor cair no eixo da pedra maior no meio do caminho.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010


Eu quero ir embora pra bem longe
pra bem longe
onde haja só uma árvore e sua sombra
um monastério de seres perdidos desse mundo
estejam em ausência de todas as possibilidades
de todas as sensações mediocres que se submeteram.

Vagueio dentro de mim
sou uma cratera única no fio do mundo
caminhando hoje
trémulo
cego
sem estômago
sem água para beber.
com medo de mim
com coragem de morte
Ponho-me na cruz e suplico
não há ninguém
nada que me sacie com vinho acre
com um choro por mim.
Não quero
quero tomar o veneno da mentira
da perdição dos fatos
do homicidio do amor.
Nem Deus ouvirá o meu pedido
nem ouvirá nunca mais.
Pagarei no inferno da solidão
porque a escolhi com esposa.
a morte? A solidão definitiva
caminho de agora até um amanhã sem predição.........
Perdi o amor
o próprio
o consolável
o crucificado
o de noites
o de dia.

Cadeira vazia
Mesa vazia
xícara(   ).
Não há mais nada
a palavra se opaca
se defila
se derrete em mim.
Minha vida foi negada.
quem sou eu eo amor?
Morrendo talvez exista um outro templo
onde outros sacrifícios
outras vítimas se matem, sejam holocaustos
de qualquer outra epécie de veneno
que não sej ao que eu tomei hoje, sozinho.
sozinho porque nasci assim
sozinho tiraram- me uma perna.
sozinho vou buscar, ela e tudo o que me amputei.
Cavarei minha sepultura, pá a pá
silenciosamente me cavo me enterro me mordo
me morro
outras vezes quando for preciso
outras vezes
e me despedirei da vida
provando da alegria mais suposta
e da tristeza mais correta.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um copo de vinho ao lado
uma cama sem cabeçeira nem criado mudo.
A noite semi-burguesa de geladeira vazia.
O medo de que a chuva seja ainda mais forte que ontem
são preocupações vazias que me alcançam o começo da solidão.

Abro O Caim de Saramago
As palavras assaltam o meu imaginário e tentam me tirar da cama.
Inquieto minha leitura sempre que me vejo no meio da verossimilhança.
Sou eu o protagonista, o vilão
a circunstância clímax que escolhe o autor para
desenrolar um desfecho menos óbvio,mais  literário.

Ar, mas dessa vida real tenho mesmo muito pouco!
Dentro das páginas folheio com minhas mãos
aquilo me poderia passar num romance
mas não  haverá um Capitúlo I.
Não tenho mãos para me comppor
não sou o artífice para degenerar o real naquilo que ele pode se desfazer: ficção.
Danço canto e choro aqui neste plano de mundo
sonho para que estrelas continuem a iluminar um céu
espero vê-las à  noite detrás da fumaça citadina que me resta.
Vou para a cama estando já desde centenas de minutos
e insonho de olhos fechados o meu melodrama salvífico
de todo (o) dia esperar que eu seja outrem
que abram portas
que me deixem mais humano e menos livro.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

 Rufino Tamayo

Libélula sem asas
palavras usadas
no mesmo
verso que se decompõe.
O vento me apavora
as veias me saltam e um liquido
corrosivo avermelha a ponta da minha epiderme em pânico.

Palavras compõem a minha dor.
Fujo e fungo o último odor que me resta de alguém.
Além, proponho um céu rabiscado e de estrelas...
Olho um mar negro lançar ondas de remorço
e meu amor ser a dor desse segundo fisgante.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Haverá um dia em que todos os homens comerão a mesma mulher.
Todos sentarão na mesma privada
e cearão o mesmo vômito agrotóxico da natureza.

Um dia em que todos ao levantar suas visceras
perceberão que tudo não passou de um fracasso
que não restou nenhum dos cabaços nas femeas silvestres
e braços de mar, e rios.

Sim, esse dia chegará
Apocalipse de adão e evas nuinhas
insolaradas por UVA e UVB: desprotegidas
vaginas que não mais trarão filhos.
Homens que se aborreceram do sexo
e não tiveram tempo de abrir o selo do amai-vos uns aos outros.

Quando isso acontecer
um dragão vestido de sol
com um diadema de palavrões e baixarias
egolir-nos á
por termos sido menor do que
se contavava nos projetos do Criador.
Eis a profecia digna de toda a crença
Digo eu, João apóstolo de mim mesmo
e detector das pragas que abaterão
a Europa primeiramente: babilônia genitora de miséraveis indígenas e negros
Estados Unidos: diplomata do capitalismo que deu certo demais
segundo as estatísticas do IDH e da distribuição de rendas
E ao cabo A-frica-mérica-sia
porque os últimos castigos,
piores, sempre foram nossos.
Nunca peças perdão pelo que fizeste de pouco ou muito
não cantes mediocrimente um amor morto
Horto de um anticirsto blasfemador
Cravos nas mãos do amor e sua insurreição.

Vale-te
do que és
do que foste para mim.
Isso, em fim
é o bocado que resta na fresta da do rque não podes mirar
pelo fio de luz que  se ausenta do meu quarto há muito sem ti.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Meu amor é um fratura exposta
um gole acre entumecido
vigoroso e letal.

É um corredor percorrido a noite inteira
Chuva fina caída lá fora no dia mais triste da vida.
Há muros que foram por ele construído
Há o próprio amor que vai remoçando
como se dele mesmo nascendo
E morre, e vive e segue falecendo
aquelas milhares de coisas que se impunham em cima da mesa
do armário, das bolsas e do miocárdio imprudente.

Há no amor uma espécie de continua despedida
mesmo no reencontro diário e enfadonho.
Há no amor gota, um solo
um água que não jorra
que não seca
aparece mas não totalmente se encarna
nem como corpo nem como alma.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Van Gogh


Amor é uma coisa.
Coisa é um substantivo masculino ou feminino que se adequa a qualquer outro
e não se determina consistente.
Cada um, sendo coisa ou humano
pode versificá-lo como quer ou lhe convém.
Que coisa o amor
Exatamente assim
diz e repete o ser ao qual essa coisa  falta.
Que também (não) me cabe.
Que me joga contra a parede ou para além dela.
Me põe enganado para dormir
E quando acordo leio Dos Anjos:
O amor na humanidade é um mentira!
Concordo em parte com o mais novo poeta.
Porque provo do amor o que ele propõe de mentira e verdade
O que o faz o sentimento mais escabroso e inútil
Ah! Sua maquiavélica mecância de seduzir, iludir, redimir, usufruir de toda cacofonia
resistente em seus seres doloridos: seja ele um homem, uma mulher ou um poema.
Circunstâncias incertas e diretas em cama mesa e banho, onde o amor acontece.

Para falar do amor é fácil
O segredo é não ser composto, mas simples
É não viver seus sentimentos sem escrúpulos
não sentir todas as alegrias:
a vertigem de um momento preenchido por dois seres à noite
os suicidios paulatinos
os homicidios regeneradores e macabros de nós e do outro.
Loucura(s), singular ou plural
é o que resta na coisa no amor
uma coisa que o poema
humilhadamente não logra

sobram excessivas razões para...
E o coração, velho átrio para
o sacrificio de todas as horas.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Eu mentia, tu mentias, quem mentia?
Eu sofria, tu sofrias? Nós.
Eu queria, tu querias
E sobrevivíamos  sentados no amor sentados e em grutas
cercadas de flores dadas ao longo de quase um tempo de ternura.
Ah, coube-me o amor e toda a sua força
Dei a ele toda a lágrima, como sempre.
Neguei um abraço e me senti mais forte
Neguei um beijo e agora falta-me tudo.

A gente sempre se mata depois de um amor,
restaura-se porque o tempo é pouco
a felicidade é muita coisa pra pouco espaço
Não cabe no meu corpo nem o verso da inspiraçãode agora.


Para ti escrevi meus versos mais fortes
Ainda assim não consegui que rimássemos em poesia.
Um dia o mundo far-se-á outrem
os amantes do porvir
esqueceram de si e perderão nossas metáforas caducas
de nossos livros relidos.
Em nossas estrofes pueris e finas
 ncontraraão um sendero
que revelará teu nome menino.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Quebrado, o coração não se alteia.
Sem asa ele fenece e não encendeia.
O que  na vida virou sangue pisado
não corre mais nos glóbulos pelas veias.


O amor sabe cortar asas, podar-se!
Aprendeu desde Adão a ser perdido
Pelo mundo traça um inferno e um paraíso,
com os pés estreitos da morte  implora à vida.


Não há quebrantos, não há sorte.
O que há nos corações amantes,
é que sempre amalgamam sulcros de desordem.


De repente toma-se em taça desse veneno
que desce nauseando suas visceras
E ilusão em vão atormentada
levanta brados com garganta mísera.



Augusto do anjos
Vandalismo


Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.


Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.


Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...
 

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010


Sentar-se ao lado de um crucifixo velho
lembrar-se que se morre todo dia.
Pôr as mãos juntas para que não se desesperem
e os cravos de alguma armagura
não as deixem definitivamente separadas.
Rezar  ave-maria abraçando a  morte
como uma pietà de joelhos no inferno
como um desconsolo de Pedro
que não sabe se ama mesmo, se ama.

Há um abismo em fazer-se cego diante dos livros
em pensar que não lemos
não escrevemos as pessoas em nossos cadernos
superiores.
Há um ateísmo falso
quando se toma o corpo
e na luxúria, na carne, aumenta-se as horas
sem alma e sem caridade.

A noite é maior do que o dia
e me impõe segredos que eu mesmo não me conto,
por isso me deito e fujo
e a lenta  madrugada acontece
como se nada em mim permancesse.
A escrita que me adentra
espinhosamente me apronta no papel
leva um sentimento pela veia
descendo
escorrendo em direção a qualquer mar que o naufrague.

Esccrevendo, permaneço entre palavras
e ali desconserto meu silêncio
ancoro num porto
e armo uma tenda
onde calado penso e durmo, e não choro.

Quando não há ningué mais por perto
quero, sozinho, a paixão do silêncio
que  me provoca um desvelamento de mentiras
em verdade,
tudo passa
tudo pára quando se sente saudade.
quando o sol até o fim da tarde apaga
a esperança de ainda haver um tempo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

João têm uma mania de perder as coisas
Desde o ônibus à opotunidade de ficar sozinho com quem ele ama.
É incrível a oportunidade que  Joãoaproveita
para perder tudo o que lhe é importante:
Carteira, chave, caneta,
parente, criança, perna e amor.

João vinha falando sozinho no carro
dizia para si algo muito estúpido que ninguém ousa dizer para si,
nem para si.
É que a gente sabe o até onde aguenta uma dor
e quando não suporta quando ela se manifesta em perdas
vende tudo o que têm e dá aos pobres.
João é assim
morre pobre de achar que merece mais
que pode mais
e é um sentimentalista fracassado
poeta d eum livro só
e dançarino desprezado em festas de sargeta.

João é de um violência
que dia desses opera a si mesmo
arranca o coração
e vai embora sozinho
lacunado sorrido
invejado pelo prórpio umbigo.
Picasso
Eu queria falar de mim hoje
Falar mesmo
com a boca
os dedos
meu sexo e meus ouvidos.

Falar o que não tive coragem
chorar o que faltou naquele dia
e fazer um escândalo particular
pra me sentir mais livre.

Queria saltar da árvore mais funda
matar-me duas vezes e chorar sobre meu cadáver
fazer tudo o que me disseram Não
com deod apontando na cara
e reforçando minha óbvia fraqueza.

Queria mentir para mim
escrever um bilhete errado
esquecer dedicatória
fingir ser uma pessoa estranha
mudar de ropa e peruca,
mas sentir alguém.

Queria falar de mim hoje
queria faltar em  mim
e depois justificar-me
Porquefalhou-me algo, hoje,
algo que nunca tive nem senti.
Uma pedra rara e escura
um sapato de um ídolo
qum izqueiro importado
uam coisa que talvez nunca tenha.
Formidável é a coisa mais simples
as dores mais agudas
as vozes mais graves
o buraco mais fundo
a árvore mais verde
a folha mais rara
o chão mais seco
o amor mais sentido
a loucura mais bem feita.

Formidável é o que sinto no oco da alma
no esconderijo entre meu nome e o teu
no segredo que nem contamos ainda para o outro.
É a canção composta especialmente para...
o presente sem dedicatória
a frase inesperada.

Tudo tem que ser único
ou vivido como se fosse
Formidavelmente cada acontecimento
em sua forma, intesidade
e desejo de repetir
o que ainda não foi desfeito.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Nunca mais houve um poema
.Nunca mais um copo d'água da tua letra
aquela caneta preta
riscando papel reciclado
criando um sol azul.

Nunca mais é muito
faz pocuco tempo ainda
que não me cantas
que não espantas por um momento
a minha imagem perturbadora
da minha vida na tua.

Há ouvidos prontos a escutar
um idilio, uma harpa
e tua composição rendida.
Há olhos pra chorar quando sangra
há um cama sozinha branca
há um quarto que ficou na lembrança
há tudo o quanto foi esperança
e isso me faz sufocar a hora morta
desse dia franzino cartas rôtas.
Os amantes- Pablo Picasso


Encontro


Nem tu nem eu estamos
em condição
de nos encontrarmos,
tu...pelo que já sabes.
Eu o quis tanto!
Segue essa veredinha.
Nas mãos
tenho os furos
dos cravos.
Não vês como estou
dessangrando?

Não olhes nunca para trás,
vai devagar
e reza como eu
a São Caetano,
que nem tu nem eu estamos,
em condição
de nos encontrarmos.

Federico García Lorca

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Indigência na vida e na morte

Clique para Ampliar
Martírio da família: cortejo entre o Jangurussu ao SVO passou por ruas e avenidas de Fortaleza
7/3/2008. A família do catador de lixo morto não consegue ajuda de órgãos públicos para transportar o corpo ao SVO

O catador de lixo José Carlos Ferreira de Sousa, de 39 anos, mesmo depois de morto, foi protagonista ontem de cenas de desumanidade, abandono e crueldade. Ele morreu nas primeiras horas da manhã de ontem e, sem conseguir transporte para levar o corpo, após pedir ajuda a diversos órgãos públicos, a comunidade e sua família decidiram transportá-lo na carroça de guardar lixo em que ele trabalhava, num cortejo entre o Jangurussu, passando pelo Frotinha de Messejana até chegar no Sistema de Verificação de Óbitos (SVO), na BR-116, sob o sol escaldante.

Maria José da Costa Rodrigues, irmã de Sousa, disse que, desde a última segunda-feira ele estava doente, com sintomas de febre, diarréia e vômitos. No entanto, somente na última quarta-feira, por volta das 16h30, levou o irmão ao Frotinha de Messejana, onde foi atendido e liberado no mesmo dia. Lá, conforme Maria José, ele tomou quatro litros de soro, fez exames de sangue e ficou em observação.

“Ele foi atendido por dois médicos, que disseram que poderia ser dengue. Eu disse para o doutor que não podia levar um homem daquele jeito para casa, até porque não tinha nem o dinheiro do transporte”, relata. Mesmo assim, o paciente foi liberado pelo hospital.

Chegando em casa, Maria José conta que deu um banho no irmão, um copo de suco e ele foi se deitar. Por volta das 5h da manhã, ela o encontrou morto, fora da rede e sentado no chão, envolto de fezes. Foi daí, então, que começou a peregrinação para tentar levá-lo ao Frotinha de Messejana.

A família pediu ajuda à líder comunitária do bairro, Antônia do Socorro dos Santos, para levar o irmão ao SVO. Ligaram para o 190, telefone da Coordenadoria Integrada de Operações Policiais (Ciops), 192 do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) e para o a Secretaria Executiva Regional (SER) VI.

Cortejo

Sem conseguir transporte, informação ou orientação de como proceder, a líder comunitária sugeriu à família que colocasse o corpo de José Carlos no carrinho em que trabalhava catando lixo, já que a família também não tinha dinheiro para pagar os R$ 60,00 cobrados pela funerária para levar o corpo.

Em cortejo, seguiram de onde a família mora, num barraco no pé da rampa do antigo aterro do Jangurussu, passaram pela Avenida Perimetral, em direção ao Hospital Frotinha de Messejana.

Foi quando a reportagem os encontrou, sob o sol forte de mais de 11h. O corpo estava enrolado com um lençol e acompanhado de pessoas da comunidade. O cortejo fúnebre do catador de lixo chamava a atenção da população. No entanto, por insensibilidade, medo ou indiferença, nesse trajeto, nenhuma pessoa sequer parou para oferecer ajuda.

Ao chegar no Frotinha de Messejana, somente um familiar pôde entrar e novamente o corpo de catador de lixo ficou do lado de fora do portão. Nem mesmo os policiais do Ronda do Quarteirão, parados em frente ao hospital, manifestaram-se para ajudar.

Como a unidade hospitalar não aceitou José Carlos morto, a família recebeu encaminhamento social para os serviços de funeral e orientação para levá-lo ao Sistema de Verificação de Óbitos (SVO), que fica localizado na BR-116.

Chegando lá, a pele de José Carlos já estava esverdeada e seu corpo exalava mau cheiro. Sem dignidade, desrespeitado e excluído, o catador de lixo foi levado para necropsia.

De acordo com Maria de Fátima Rodrigues, irmã do catador de lixo, o SVO irá liberar o corpo hoje, às 7h, e o sepultamento ocorrerá às 8h, no cemitério do Bom Jardim.

Paola Vasconcelos- reportagem