domingo, 7 de novembro de 2010

O dia grande da semana
a hora morta do sono
quando me abraça o corpo pelos pés
O café esperando nossas bocas
os afazeres que sobraram da semana.
o poema ainda esperando papel
o beijo rápido de despedida na manhã de todo dia
as compras baratas e caras
os espaços longes onde tiramos fotos e fomos juntos.
o perigo de outrora
a possibilidade da separação
o medo da saudade
a negação de sofá e cama
a falta de sexo nas veias e cabeça.
Amo-te pelo instante do tempo todo
quando somos reais, parecidos
ou quando propositalmente a vida nso fez diferentes.
Quero-te pelo tempo que as coisas são
pelo tamanho do grito que pode me escapar no desespero
e sou viviado pelas conversas e chateações que fazem do amor
essa verdade mais real
Não, a dor não toca o amor.
O que toca é o beijo
A lingua danada nos poros suados
o suor e o escorregadio sentimento quente.
Não doeu nada em ti a ferida que abriste em mim para sempre.
A que te fiz é sana
era verdade
feita pelas facas da minha traição certa
do amor que habitava em dois.
Onde moro? Em algum lugar em que me perco dia a dia.
Não sabias nada, nao sei ainda.
Não amavas, não amava.
Era um labirinto de música e pinturas, livros, fotos, flores e indignidade
pobreza de sentimentos quando não se tinha nada para sentir.

Maquiavelicamnte preparaste um túmulo um ao lado do outro.
Flores escuras envolveriam meu e teu corpo
Um vaso vazio de mentiras seria o purgatório ao que me condavas
e eu te lançaria no mais tradicional dos infernos
ao que diabo te levasse primeiro.
Hoje me redimo da criança que fui, maléfico
esqueço de quem foste, mesmo lembrando para escrever algo
que me santifique neste instante.
Busco-me nas palavras, as mesmas que te disse
agora desditas são salvíficas e redentoras
A mim e a a tarde de um dmingo em que Dionisius me espera
e meu coração não possuis, não te faz falta
nem sequer na recordação de um papel amarelo
envelhecido pelo tempo cavaleiro supremo do olvido.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Leio todo dia Ferreira Gullar
lembro sempre um trecho de Rosa
Me atormento com as frases de Clarice
Me embrago com Drummond e vinho.

Converto-me em ateu com Murilo
Escandalo-me com Piva
Fecho as portas ao amigo com Rodrigues
Viajo na consciência de Ramos.

Enxergo literatura no motor do automóvel poluente
descubro um verso no papel sujando a calçada estreita
Vejo rimas na desigualdade social do meu país
mas não mudarei nunca o mundo com a poesia
esse mundo que dizem ser meu
mas que nunca me apresentaram com beijos saudáveis.
Sou um errante na natureza artística dos edificios feito por aquitetos burros,
que engoliram dinheiro e vomitaram concreto de 30, 40 andares pela
beira mar de minha cidade natal.
Sou um eterno revoltado por morar bem e negar esmola para o mendigo mais infame
Sou um pobre coitado prestes a morrer de medo da janela aberta
de casas, carros e cofres públicos.
Eu não acredito nos jardins suspensos,
nos poemas de Jó
na cruz crucificada
na auto-ajuda
na não-literatura berrante
no presente desconexo
no futuro bêbado
na criança orfã
na amante apaixonada
no namorado feliz.
Eu não acredito no nada
muito menos no tudo absoluto.
Na amnésia alcóolica
na transcendência do poema.
na dança feita dentro do quarto
no menino amamentado
na mãe incondicional.
Eu não acredito
e sei que é o segredo de que as coisas existem
e preciso continuar a viver e descobri-las.
Do meio do meu dia surges,
és tão amável com tuas preocupações
que me escureces de pena!
Os olhos enchem-se de repentina tristeza
quase toda a semana passada
e em perguntas se eu sei ser triste.

Amor é frequencia de espanto
do descobrir-se amando.
Fazer uma leitura piegas de Neruda
saber de sua sábia poesia de amores
conhecer suas casas azules cheias de mar
e viajar na cama guardada de toda experiência juntos.
No amor há uma febre de calafrio
no amor há uma tosse tisica
uma caimbra musculosa
uma afta dolorida
um estomago vazio corrosivo
uma carta sem muito que escrever.
Há no amor instantes de não-amor.
  
Vida vencida pelo dedo afiado com a palavra.
Paixão pela literatura marginal que me erudita
Vicio de beijo e sexo das mãos.
Um dia sem rima
um dia sem copo
um meio-dia sem olhos para ler.
E esse instante de esquecer do passado robusto
do idioma falado sem truques
da autonomia do texto repentino.
Segredo de criança já crescida
livro enfeitando a estante da cabeça empoeirada
cabelos brancos crescendo por todos os lados
como se fora anteontem.

Mas meu sequestro é fortuito
O dia amanhã me chama aos gritos
a gaveta se encherá de novo dos papéis guardáveis
e meu silencio se fará na madrugada quando só o cão ladra meu presente importante.