terça-feira, 30 de junho de 2009

Poema pra fingir uma despedida

Sussurro e suspiro meu beijo último
Haverá muitos guardados num futuro fruto que cairá do pé.
Minha boca já era quase tua quando a seca vida nos afugentou em apuros
E o fortuito tão perene dos nossos dedos entrelaçados
Foram desatados pelo nós insolentes da morte.
Valei-me, coração, menino selvagem que não aprende a
cavalgar
sem
cair.
Valei-me, vida sem valo,r que não suporta amor desatinado entre
meninos e meninas.
Tu e eu, gramática de erros e acertos
Procurando conjugar-se em frases atropeladas pelas letras dos outros
Caçadores da poesia perdida na selva do sertão de há meses
Conformados ou fugidos de uma dor de morte ainda pior.


Poema de longe pra ficar mais perto

Amor, que são teus beijos à minha boca perdida
Ah, seriam um algoz preferido
Uma fruta caída do pé e comida
Uma flor quase nascida prometendo primavera
Duplo desejo é o meu, alternar abraço e beijo e depois nunc amais sermos os mesmos
Acordarmos num Parnaso da lua
Vê- la antes que anoiteça
E banharmos nus e nossas orelhas juntas.
Lá no fundo da água sermos absolutamente aquáticos
E imersos numa poesia líquida e marinha
Azul como é o amor antes dos escombros do ódio.
Guarda-me urgente
Antes que acabe a noite, nossa amante fácil
Nosso caderno escuro e rasgado pelo sol da nossa terra.

Deixa-me quando voltar pro teu mundo
Que deitemos num livro pequeno e que eu te leia Gullar,
A noite inteira com vista ou não para o mar?
Deixa que quando eu volte no apartamento pequeno
O café esquente o espaço da vida fria
E seja o presságio para em seguida o choro?
Amor, que a vida é infeliz nós já sabemos
Que do amor já maltratado fugiremos,
Mas a lma e corpo pedem, carpideiros,
Que quando eu volte não me deixes.



Relâmpago no poeta

Fugirei para um país sem livros
Sem energia elétrica
Não quero mais me divertir em biblioteca
E à noite escrever poemas de miséria.
Não quero mais ouvir nomes,
E ninguém me chamem de João
Criem um nome feito palavrão e serei grato até depois de amanhã.
Suicidarei alguém para uma ressurreição em seguida
Convencerei de que a morte é mais bonita que a vida
Que chorar por causa dela
É a mais enganosa das mentiras.
Cantarei desafinado com violões e pandeiros
Nas calçadas, por dinheiro
Pra poder fugir logo do meu e do teu nome.
Quero renegar os amigos,
E sortear suas vidas e de quem vou me despedir por derradeiro.
Vou semear a injustiça, porque será mais rápido
Sustentar os homens da miséria alheia
Do que antes não explodir uma bomba
Na praça da cidade quase cheia.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Nós dois na rede pensando em abraços: como repelir os corpos que se amam? é engraçado e infâme e beijamos os corpos, as orelhas quando o pêlo se complica entre os dedos e se reemendam nas sobrancelhas. Mas a gente querendo ficar longe, impossível?
A distância é uma mentira quando só se é lembranças.

Levo tua fotografia, não num dos bolsos,mas impressa nas mãos que te leram.
E quando quero, só querendo mesmo, olho para elas e coloridamente te imagino.
é que pode ser mesmo um engano de pensar ainda que sou teu, mas é porque ontem eu fui todo uma nostalgia.
Viajar é feito morrer
já disseram mil poetas o mesmo verso.
Mas eu sou para mim
meu poeta preferido
porque já li e fui lido e agora, vivo.

Viajar é ir na vida, em curvas
Viver é curvar-se, dobrar, desviar turvo
inconstantemente e continuar
Se quiser, chegar a...
Eu viajo porque estou na vida
Pra viajar tanto só é preciso viver
poruqe já se aventura o instante que se come e dorme
e se conhece lugares em si mesmo todo dia.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ainda restará uma gota do sangue que derramarei no papel
É o que restou dos meus dedos depois de uma carta infeliz.
Tudo se rubrou de feia morte
E o vento cantou à noite, inteira melodia da minha dor.

Não tenho abraço.
Tomo a mim mesmo no colo da amargura santa
E caio, fermentando o chão: o único que não me esqueceu
Valerei-me das mortes e dos amantes
dos romances mal escritos
Onde o amor é feliz e que não era uma vez
Mal esculpido pelos afetos todos
Meu coração transforma a morte em apelo vital
E, enfim, deitaremos num leito de folhas secas
De jardim e ataúde sem pétalas.

Subpoema- plágio sob Drummond

E agora João?
A festa apagou
O chão escapou, a cadeira balança.
E você senta ao teu lado e chora

Não és mais de ninguém, João.
És de ti, talvez, uma lembrança infeliz.
Não amaste o suficiente,
Não trocaste todos os bens pela paixão de um dia?
Rasga-te e joga fora ao cão da vida
O papel da tua história amassada!
Não tens coragem, João?
Você não é forte.
Você cambaleia ébrio,
Teu poema tem defeito e nunca fizeste uma rima.
Tudo é fracasso e compadeces de ti sempre: teu amor próprio te traiu todos os dias.

Agora não ES mais teu
Nem de ninguém, foste algum dia, deus saberá, ou não!
E mesmo que soubesse não diria.
Acostuma-te ao pântano da dor que afunda no meio do corpo
E olha para as nuvens negras sem sol.
Escreve um bilhete só
Não há poesia alguma sobre a morte de um poeta.
Escreve, e despertarás da letargia do teu corpo abismo
salva o coração para os vermes,
Porque amar nunca mais será o mesmo.

domingo, 21 de junho de 2009

Sou teu poeta, sim.
Sou poeta de versos amarrotados em estrofes sem rima,
arrimado do amor mal escondido.

Escrevo no papel da tua pele branca
Meus sonetos saem dos beijos que não te dou.
Componho Odes que se despedem todo dia
e levo uma lírica que não possui meu eu.

Sou teu, inteiramente teu, em prosa e verso
E visto da palavra o sentido perfurante.
Componho sextilhas para cantar em meus juglares.
E vou, trovador, por alguma rua da cidade imaginária
melodiando minhas trovas simples de verso manco.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Amor, não leves contigo o meu amor inteiro
deixa comigo apenas a lembrança de te sentir.
Serei eterno e feliz quando me ver sentado em um banco qualquer
recordando dos beijos às escondidas,
dos abraços sem feridas,
das mãos espalmadas e também juntas.

Deixa para mim a lembrança das palavras:
aquelas que foram minha e tua,
que outro não mais poderá usar sem se ferir ou se enganar.
Fala, amor, aos que encontrardes e por onde fores,
que amar é assim mesmo:
busca perdida e felina
uma lágrima sem trégua
o prazer de um espinho feito flor.

domingo, 7 de junho de 2009

Porque tu sabes, sim
que eu caminhava nua no jardim
esperando a hora em que tu me tirarias a outra roupa que me cobria de frio,
aquela que só tu sabes desprezar ou possuir.

Andei o dia inteiro nesse jardim
como que rumasse em um metro quadrado de flores no galho e no chão de gramas amareladas.
Esperava tranquilamente desesperada para ser mulher,
mas só tu tinhas em tuas mãos, boca e cheiro
o segredo que me revelaria o sexo danado.

Meu cão latia, insistindo a tua falta macabra e demorada.
Vesti-me após horas esperando na Rua dos Desprazeres,
fui dormir sendo menina outra vez,
depois de observar os livros na estante empoeirada de romances.
Escreverei para que o meu instante se salve
e por ele mesmo a vida seja o martírio do desencontro que é.

Não escreverei metáforas de pedra e sal,
de amor materno ou canibal.
Escreverei com o sangue da noiva descendo do altar ao suicídio.
Com uma pluma cortante, deixando arranhões e pus.

Escreverei como se fosse embora e nunca anunciasse com telefonema a volta.
Escreverei como quem desama tão ligeiro como quando se é tomado pelo fantasma da paixão às três da madrugada.

Hora maldita quando nasceu um ser poeta em mim
Porque nada de agradável encontramos ao escrever,
só o absurdo de todo dia nos contarmos, nos mentirmos,
e sobrevivermos por todo
minuto de morte a que temos direito.


HILDA HILST: Cantares de perda e predileção
Vida da minha alma:
Recaminhei casas e paisagens
Buscando-me a mim, minha tua cara.
Recaminhei os escombros da tarde
Folhas enegrecidas, gomos, cascas
Papéis de terra e tinta sob as árvores
Nichos onde nos confessamos, praças

Revi os cães. Não os mesmos. Outros
De igual destino, loucos, tristes,
Nós dois, meu ódio-amor, atravessando
Cinzas e paredões, o percurso da vida.

Busquei a luz e o amor. Humana, atenta
Como quem busca a boca nos confins da sede.
Recaminhei as nossas construções, tijos
Pás, a areia dos dias

E tudo que encontrei te digo agora:
Um outro alguém sem cara. Tosco. Cego.
O arquiteto dessas armadilhas.


HILDA HILST: ODES MÍNIMAS

Perderás de mim
Todas as horas

Porque só me tomarás
A uma determinada hora

E talvez venhas
Num instante de vazio
E insipidez
Imagina-te o que perderás
Eu que vivi no vermelho
Porque poeta, e caminhei
A chama dos caminhos

Atravessei o sol
Toquei o muro de dentro
Dos amigos

A boca nos sentimentos

E fui tomada, ferida
De malassombros, de gozo

Morte, imagina-te.

sábado, 6 de junho de 2009

Se por acaso a noite ainda esquenta o sonho no travesseiro
e a rosa insiste em existir num vaso sem água,
é porque a metáfora do amor de outrora foi prometido e jurado ser dentro de nós.
Tu mesmo me escreveste um livro com a máxima que dizia: te amarei no silêncio.

A promessa é de carregar a cruz ao Gólgota e expor o corpo aos açoites de cada dia.
Faça-se! Porém a cor púrpura de nossa despedida momentânea e perene
guardam si um sol e lua desencontrados, entre nuvens de enxofre onde o anjo anuncia um fim de mundo.
Não há aniversário no que parece-nos atemporal
a vida não tem preço nem minutos,
é um todo de dor e alegria
que se entendem em fazer-nos seus fantoches in-felizes.

31 de maio