quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Interessante!
Hoje escrevi três poemas,
nenhum de amor
nenhum político,
nenhum metapoema,
escrevi muitas coisas que chamei juntas de poemas.
Na verrdade, o que sentia ao escreve-las
e o cuidado para que cada palavrra dissesse
é que decidi nomear poesia.
Ler e escrever poema é uma questão de escolha
de ideal de vida
divisa arqueada sem que ninguém perceba.

Um dia visitei amiigos que disseram ver poema nos meus olhos.
Mas é claro, eles ficam e miopiam
apoderam-se também das orelhas lingua
perna, mãos e olfato.
Tudo se torna no corpo, dentro e fora, poesia,
porque clamava antes atenção e maquiagem
e já eram nossos todos os versos lidos depois e outrora.
Vi-me no espelho do quarto e consegui ver nos membros os versos
e estrofes que me organizavam no mundo e me faziam dizer e rimar

TATEANDO

                    rufino tamayo

Alça-me a dor da menina perdendo um corpo
O mundo não gira hoje para ela
o dia passa longo pela janela branca
e o cheiro de deformações insultam suas narinas.
O consolo quer ser ouvido
Não há nenhum poema que me mate ou redentorize no momento
Não tenho cruz nem salvo almas
Meu pecado é ser inútil nas horas rubras da vida.
No meio de tudo
os seios maternos choram o ventre que pariu o presente sofrimento
O choro do pai no canto escondido
esbelta a vida que iludiu o para sempre.
O fim da tarde de domingo convida outra vez
a morbidez, o pranto que escure de  nuvens esguias o céu daquele dia.
A árvore no meio da caatinga suntuosamente sobrevive.
A pouca agua sulcra suas raízes e lhe salva do mundo seco,
das pessoas secas,
do barro seco.
Meu coração, não
se árida pela falta de líquido nos olhos,
pelo excesso de dor dos outros.
Pela subtração da alegria e supervivência com a solidão, irmã idosa.
O caminho do sertão é longo, grande, claro e cheio de pássaros escuros.
As pedras gigantes de Quixadá
lembram-me que viverei talvez oitenta anos
e continuará lá a rocha de que meu coração não é feito.
A vida é a essa experiêcia letal
os dias nos apressam as experiências logo
e nos reserva flores e ataúde.
O tempo é esse companheiro sátiro
que deu rocha à montanha e músculo ao meu corpo insano.
A poesia não precisa do silêncio.
A Pallavra existe sem ortografia.
Sintaxe é o aprisionamento de fato com que regemos as combinações
não há regras para falar e às vezes no mundo
não temos o temos o que dizer.

A palavra salva e sepulta a si mesma
sobrevive as cartas de amor dos mentirosos
e esfaqueia o estômago do ditador tirano.
Houve um tempo em que ela era o centro do universo
e hoje a fazem objeto de museu ou canções sem tom.
Valeráum dia ouro em pó
mas enterrarão seus significados sem gramática e dicionário.