sábado, 28 de fevereiro de 2009



Quando você saiu pensei que fosse sentir sua falta
Mas senti falta de mim.
Perdi as pernas e o ar quando você saiu
Com a bolsa carregada de coisas nossas
Fiquei só e sem corpo fiquei sem ar
Quando em sua bolsa saíam seus olhos de menino
Sua língua dobrada sobre os lábios
E seu jeito próprio de pronunciar os esses e sua voz
Em sua bolsa você levou meu corpo em suas mãos
E fiquei só
No morno descanso da solidão que nada perde nem ganha
Abraçada ao travesseiro que não conseguia ser seu braço.
Recomposta depois de um curto espaço de morte cultuada me ergo
Na esperança de sua pele que me absurda.
Viviane Mosé

De um sol,sim, queria falar

de uma natureza que sobrevive

de uma pessoa imperatriz

de minha carne, suavemente.


Eu queria a palavra feiamente me cuspindo

a palavra prenhe de mim

a palavra feito o sol, o fogo e o amor que queimam

mas parece que não há palavra agora que me padeça

que me enlouqueça e crie uma ponte a qualquer sentimento nu.


Vou me esquecer que quis o sol

que houve um dia estrelas e

que a lua é bonita.

Esquecer é uma morte completa.

Lembrar é padecer demais


TESTAMENTO
Sou de carne, de osso
e de nuvens. Exponho-me
aos ventos. Se meu ser
falhar; darei as sobras
de mim ao deserto
dum único amor.


Há dias em que há

mais sentido nas ruas

do que nos livros.

Nesses dias se deve de casa sair

e, dentro de si,caminhar à escuta da vida.


Há dias,porém,

em que mais sentido há nos livros.

É preciso, então,trancar-se em leituras

e, numa entrega de sonho,

misturar-se ao mundo.


PÓS-MODERNO

O que falta dizer
depois do adeus?

A alma, qual roseira
no deserto, reconhece
a algema de sal
que prende o algoz
a si próprio.

Um resíduo de luz
assinala um desejo,
a flâmula dum erro,
um frêmito
nas cordas vocais.

Eu, tu, nós:
rumamos para onde menos dói
estar na esteira dos fatos.

Se pudéssemos, lentamente
deixaríamos tudo como era
e lembraríamos as coisas
como quem adormece.

Poemas de Alcides Buss


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


A dança das imagens de Murilo
O poema é feito de palavras, medida e ritmo (poesia é devaneio, mas com método); é a transformação da vida em palavra – mas é melhor transformar a vida em poesia do que fazer poesia com a vida. Murilo Mendes (1901-1975), mineiro de Juiz de Fora, é um desses poetas que trata a poesia como uma idéia do imaginário.Poeta é aquele que sabe que o universo é inocente mesmo quando sepulta um continente ou incendeia uma galáxia. Pode-se dizer que o poeta é, sobretudo, aquele que recomenda sonhos, que prefere “a nuvem ao ônibus”, que sabe que “o tempo é refratário, apócrifo, redondo” e, que, ainda assim, espera que “o anteontem prepare as rodas do amanhã”. Murilo tinha consciência de que “sem esperança não surge o inesperado”. Outras gerações começam a redescobrir o poeta que sabia que viver a poesia é muito mais necessário e importante do que escrevê-la: “O sofrimento dos poetas, dos artistas e dos santos torna-se o estrume espiritual da humanidade”. As metamorfoses (1944), Poesia e Liberdade (1947) e Tempo Espanhol (1959), (Ed. Record), relançados por agora, em comemoração ao centenário de nascimento, é antes de tudo uma mostra de que a poesia não é apenas uma operação da linguagem, mas uma experiência de vida. Poesia e Liberdade é reflexo dos tempos da guerra: “a terra chove suor e sangue”; “projeto estético” associado a um “projeto ideológico”, “concepção de poesia como uma linguagem universal da experiência humana”. Já Tempo Espanhol, segundo Júlio Castanõn Guimarães, apresenta poemas “em que se entrecruzam a rebeldia, a religiosidade, o inconformismo, a criatividade, a sensibilidade de uma Espanha cujo horizonte é a história. Uma história pontuada por seus pintores, toreadores, poetas, místicos, por sua arquitetura, seus ritos, suas paisagens.” Fábio de Souza Andrade abre As metamorfoses afirmando que há três matrizes estético-ideológicas na poesia de Murilo: “o filtro de um humor irônico, a liberdade das associações surrealistas, e um catolicismo sensualista e pouco ortodoxo”. E acrescenta que As metamorfoses, livro central em sua produção, “abre-nos de par em par as portas de um universo poético em pleno vigor, onde a realização lírica não fica aquém de sua ambição máxima.” Mendes é também conhecido como um remanescente da vanguarda do século 20. O poeta trabalhou com colagens surrealistas nos anos 30. Por volta dos anos 50, o poeta investe em textos que se aproximam do cubismo, a partir de temas contraditórios, como a espiritualidade, coloquialismo e sensualismo. A poesia de Mendes é uma dança das imagens, jogo hedonístico, dicção antropofágica, sopro metafísico, fala atemporal. A grandeza de Murilo é verbal, visual e sonora. Poeta da consciência cósmica, do transcendental, do abismo da história, das elocubrações metapoéticas, das imagens apocalípticas, do pensamento selvagem, dos aspectos mais cotidianos do mundo humano. Mendes influenciou profundamente a linguagem antilírica de João Cabral de Melo Neto. Carlos Drummond, Manuel Bandeira e Jorge de Lima são os três poetas que mais dialogaram com Murilo. “Mendes é o maior distribuidor de poesia que jamais conheci”, declarou Jorge de Lima. Outra grande influência de Murilo se deu através da amizade com Ismael Nery, pintor, arquiteto e poeta. Em Recordações de Ismael Nery (Ed. Edusp) coletânea de textos de O Estado de S. Paulo, e do Jornal da Manhã, do Rio, Murilo disseca a vida e obra de Ismael. Ismael Nery foi quem converteu o anárquico e visionário Murilo Mendes ao catolicismo. Recordações de Ismael... fala, sobretudo, de um grupo de amigos que girava em torno de Nery. Os mais fiéis eram Mário Pedrosa, Jorge Burlamaqui, Guignard e o próprio Murilo Mendes. A conversa quase sempre se estendia em torno da filosofia de Ismael, batizada por Mendes como “essencialismo”, uma espécie de sistema filosófico preparatório para o catolicismo, investigação filosófica das coisas essenciais através da abstração do tempo e do espaço. Murilo Mendes legou muitas imagens à memória dos leitores. Mas há críticos que o classificam como poeta metafísico, poeta concreto, poeta modernista, ou apenas poeta surrealista. Não há como classificá-lo, já que a diversidade de estilos é o que caracteriza a sua obra. Na “Microdefinição do autor”, o poeta diz que pertence “à categoria não muito numerosa dos que se interessam igualmente pelo finito e pelo infinito. Atraem-me a variedade das coisas, a migração das idéias, o giro das imagens, a pluralidade de sentido de qualquer fato, a diversidade dos caracteres e temperamentos, as dissonâncias da história”.
Poemas de Murilo Mendes
"Joan Miró"
Soltas a sigla, o pássaro e o losango,
Também sabes deixar em liberdade
O roxo, qualquer azul e o vermelho.
Todas as cores podem aproximar-se
Quando um menino as conduz no sol
E cria a fosforescência:A ordem que se desintegra
Forma outra ordem ajuntada
Ao real - este obscuro mito.(Do livro Tempo Espanhol, de Murilo Mendes.)
"Abismo"
Todos me indicam o caminho contrário.
Bebi na música
E fechei-me a sós com o sonho.
Quando acordei
Haviam destruído os gramafomes
E a treva anterior envolvia a cidade.
O mar passava nos braços
Uma pulseira de mortos.
Abri um pé de magnólia
Dando sombra ao Minotauro.
Desde então
Um peito é zona de guerra,
Fiz um eixo com as estrelas.
A poesia em pára-quedas
Tanto desce como sobe.(Do livro As metamorfoses, de Murilo Mendes.)


Nota do EditorEnsaio gentilmente cedido pelo autor. Publicado originalmente no caderno “Idéias”, do Jornal do Brasil, em 15 de junho de 2002. Pedro MacielBelo Horizonte, 5/12/2005




quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009




Um cigarro inteiramente teu

num momento unicamnete nosso.

E todas as circunstâncias ali se acabavam.

Nada era injusto, nada era traição.



Era meu e teu,

era o cigarro, o copo, a boca e os peitos compartilhados e espraiados um no outro.

Era a música da madrugada às cinco da manhã

a fumaça e o frio que faziam movimentos e conspiravam para o amor dos meninos.



Foi uma viagem infinda, comprada por uma surpresa destinada ao singular da nossa vida.

Dias do equinócio se manter ali

e nunca mais houvera outra cidade, outros homens, outro país,

apenas nossa terra e um sertão chamando a felicidade.







"É tudo preto, bailarino

Das tantas múmias rendidas

Entre tiras enegrecidas

Tecidas em sonhos que se desfizeram

É tudo fresta, dançarino

E os olhos que espreitam entre as faixas,

Entre as janelas e quimeras.

Todas pessoas que te olham,

Ah, sabes, ninguém olha para elas

Nesse instante tens a beleza da coisa inteiramente viva”

SARA MAIA

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

suspirus

Pintura: do momento de desespero- Van Gogh



Nu, meu corpo esquálido se espraia num tapete sujo

meu espírito faz redemoinhos em busca do céu que me prometeram dentro de minha mãe.


A Terra só me trouxe uma dor que me dura há vinte oito ventos

Os sonhos foram menores que as perdas.

Nada se interessou ou realizou-me por um dia.


O mundo continua a ter gente feia e pobre,

e espíritos de des-luz roubam dos seus entes o feijão e a escola.

Meia desilusão visita todo dia minha porta

e uma só me bastaria hoje pra que o suicidio fosseuma resposta a todos.


Durmo e o sono sem sonho responde ao meu anseio de minha vida perplexa e doentia.

domingo, 22 de fevereiro de 2009




Bailarinos tresloucados


A poesia que cansa,
dança
faz rodopios loucos em dialogos tresloucados
bebe no mesmo copo, senta na cadeira ao lado
e nós bailarinos doidivanas
perdidos em pensamentos e doses de vinho
doando uma lágrima quando a música é recordada.


Somos nostálgicos demais e por isso dançamos,
dançar queima em nós esse gosto da vida sem palco
esse ônibus nos obrigando a pensar nele
essas pessoas sem pernas
andando pro nada
e nós aqui
felizes e infelizes porque isso sim é importante,

isso

porque privilegiamos as portas abertas,
o caminho com pedras

ou sem pedras a la Drummond
mas com gosto de terra e pés descalços.



SUBVERSIVA

A poesia

Quando chega

Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.

Quando ela chega

De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil

Infringe o Código de Águas

Relincha

Como puta Nova Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois

Reconsidera: beija

Nos olhos os que ganham mal

Embala no colo

Os que têm sede de felicidade

E de justiça.

E promete incendiar o país.

Ferreira Gullar

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

dia FÚTIL




A calçada hoje chorou com os meus pés me atravessando.
Alguém do outro lado quis ser do mundo.
Ninguém do mundo quis ser mais gente.


Eu andei o jardim inteiro,
nenhuma rosa apareceu.
Eu chorei num jardim seco,
onde meu amor morava ontem, à tarde.


Ai dos meus jardins sem essas rosas!
Ai do mundo sem a gente junto!
O que será o amor depois de morto?
Um sentimento cova
e um sem-beira fumando para sempre.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


"Quando conhecer tua alma, pintarei teus olhos."
Modigliani: Jeanne
A noite colocou em tela tua figura
meus olhos não cansaram de estar boquiabertos.
A noite escura pintou teu rosto em cinza.
Teus olhos? Quase não os via.
Tua boca foi um detalhe quase esquecido.
A poesia te coloriu melhor nas minhas folhas brancas
Assim como és perfeitamente nos meus quadros.
Os pincéis da nossa paixão quase esquecida
borraram alguns instantes e tintas.
E eu me vi tolo a rasurar um próposito de orgulho.
A voltar para casa sentado num tílburi moderno,
onde a velocidade produz um som negro
e uma desilusão quase imposta.
Descobri-me não pintor, mas outra vez poeta.
Voltei para casa, lá os poemas estavam, de certo,
e pintei meu rosto resoluto e descoberto.
Mais uma vez a vida me ofereceu um gole de fel e tinta preta
e nenhuma inspiração que me fizesse ser teu pintor, não mais poeta.

domingo, 15 de fevereiro de 2009























Sonhar é tão grande que não cabe nessa vida

Ser gente é uma ilusão contínua
e quando eu insisto com a fé
a vida me vem e mostra a mudez de meus irmãos
quimeras e monstros povoam o meu ideal
e um saco mendigo carrega um homem e senta-o na calçada da madrugada.


Um fôlego me falta e eu lembro que na infância

eu sonhei foi quando eu encontrei um mundo do mesmo jeito

e um des-sonho me tomou pela mão.


Esse mundo é redondo ainda
os homens o repartem como herança desde sempre
minha família me dá ânsia de vômito às vezes
e eu tento crer que a poesia ao cabo de tudo
resultará no famoso encontro do homem com ele mesmo.

Pintura: Picasso, El sueño

POESIA MÍNIMA


Pintou estrelas no muro

e teve o céu

ao alcance das mãos.


Helena Kolody

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009



A noite faltou em mim
grita comigo
e à meia-noite
a cadeira ao lado sentada sozinha .
O telefone não fala
e o livro na estante espera.
Faltava-me um suspiro só e eu morreria.
A noite vela acesa e meus olhos ardem na luz,
mas não há morte e ninguém que converse comigo.

A noite é o prêmio dos amantes fugidios,
dos escondidos na gaveta revelados até a hora matutina.

A noite de hoje é minha poesia
meu cálice cheio de vinho,
meu drink brindado entre meu eu e ninguém.

Restará um poema escuro e um grito de solidão taciturna
Um baú será aberto depois de anos
e esta noite será vivida pelos tísicos que agonizam
na mesma hora trepidantes.

Pintura : O Grito" - Eduard Munch

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009


Entrelinhas
vi teu nome
Entre as linhas da nossa canção,
mas são tantas!
Ave- paixão santa do meu céu profano
Ave-saudade, ave sem asa
Comprimido dos distantes
do amante em rede numa noite e o copo vazio
sem o sobejo das noites de sábado.

Saberá Deus que eu amei assim, injustamente?
E mais injusto foram todos, todos os homens
quando minha dor já era urgente
e nem assim o mundo me fez trégua
A minha dor falhando em mim
E nós sozihos buscando um fio do outro
Na noite em rede e cama vazias sem corpo e sem beijo.







Desta árvore só espinho
Nasce o verde que só engana
Do vermelho raro finge sair um fruto
Mas a figura do Cacto é a fartura egoísta
De quem esconde água quando o sertão é seco.

Meu povo reza aos pés dos Juazeiros
Onde se esconde a butija e os sonhos não sabidos
O Juá doce amarga na sombra sem nuvem
Estira-se o corpo da família em carne e osso
E uma cadela mais feliz do que os outros
Mostra-se mais humana que o menino mais velho

Faltam-lhe forças
Faltam-lhe asas que os levem feito urubus
E uma carnificina qualquer afasta a fome de uns dias.
Mais nenhum morto meu deus ! O inferno já está cheio!

Na falta de palavras e comida
A sede de dizer o que não se sabe
A covadia na algibeira
e na peixera, um matulão vazio
um mundo, um homem e uma mulher sem cama
num sonho da casa de Seu Tomás da Bolandera.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Eu tentei dormir, sim,
alí, outra vez dormir com os pés assim
eu queria sorrir
e tocar meu pé nos teus
mas o que foi aquele adeus sem fim?
meu pé no desenho não se recolhe mais ao teu lado
e toma um rumo oposto e vagaroso
como quem se despede forçado.

E a vida o que a vida quer de nós com tudo isso? Com tanto risco?
Meus poemas são assim, cheio de perguntas
e a resposta no fim de tudo tola e absoluta
é dum amor escancarado, dum amor trancado
dum amor-amor estúpidamente amado.

sábado, 7 de fevereiro de 2009


"Não há instante que não seja carregado como uma arma". Borges


Não, amor, não é mentira!

Escuta a nossa história outra vez.

Lembra da nossa medida ,

refaz a farsa dos nossos corpos ali juntos,

na cama ou no chão tão absurdos,

esquecidos das outras coisas mais pequenas.


Volta , amor, àquele parágrafo do texto

onde éramos tão amantes,

que nem a noite nos rompia um instante de beijo

e que o sono ia embora

e um percevejo rodeava o corpo inteiro feito dedos

e trazia-nos o prazer clássico do amor de outros tantos.


Faz, amor, isso por nós,

porque eu lembro de tudo sem um pranto,

mas o sorriso sim, limpo e santo,

sai do meu rosto quando a tua ausência

é certa e o reencontro uma porta semi-aberta.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009



Não, não há nenhuma poética universal: universal é a poesia, a vida mesma. Universal é Bizuza, cuja voz se apagou com a sua garganta desfeita há anos no fundo da terra. Universal é o quintal da casa, cheio de plantas, explodindo verde no dia maranhense, longe de Paris, de Londres, de Moscou. O frango que nasce e morre ali, entre as cercas de varas. O cheiro do galinheiro, a noite que passa arrastando bilhões de astros sobre nossa vida de pouca duração. Universal porque Bizuza, amassando pimenta-do reino numa cozinha de São Luis, pertence a Via- Láctea. E a história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola nos quintais, entre plantas e galinhas; nas ruas de subúrbios, nas casas de jogo, nos prostíbulos, nos colégios, nas ruínas, nos namoros de esquina. Disso quis eu fazer a minha poesia, dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não têm voz.

Sobre arte, sobre poesia: uma luz do chão.


Ferreira Gullar

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Um mandamento para cada um, todos os pecados para nós dois.



Fazer a troca de palavras como de roupas

buscar o tempo certo,

o beijo encaixador de línguas,

o puritano de nossos sexos,

a nudez de nossas mãos danadas.
Entre eles, Ismael Nery

Meu corpo lembra o teu e chora amargamente a distância

se impondo diariamente como verdade,

de juntos não pudemos ficar

e que desde lá chamas meu nome

e de cá toco a boca e suspiro teu ar que me lembra alguma coisa libidinosa

algum instante de sexo valioso e singularmente nosso


estou aqui, sitiado agora pelo desejo faz sentier coitado

pela saudadechorando no meu lugar

pelas fronteiras de uma geografia de terras além- amar.