quinta-feira, 28 de maio de 2009


Chegamos ao cimo da cumplicidade

de corpos nus por dentro e por fora

por coração cabelo dentes e língua ininterruptos

A noite inteira procurando pé

O frio que ajunta a pele e o calor atiçando o desejo

e os segredos da noite foram revelados e já conhecemos

no pesadelo ou nos sonhos escondidos

Tudoéjunto

mas somamos tu e eu

caminhando sem trégua e tropeçando

correndo na vida a galope

Esperando o elevador das promessas


enquanto a briga seguida de sorriso e

a graça perseguida da raiva

espera o amor crescendo mais nas viagens do cotidiano morto.

segunda-feira, 18 de maio de 2009



Eu existo para assistir ao fim do mundo.

Não há outro espetáculo que me invoque.

Será uma festa prodigiosa, a única festa.

Ó meus amigos e comunicantes,tudo o que acontece desde o princípio é a sua preparação.

Eu preciso assistir ao fim do mundo

para saber o que Deus quer comigo e com todos

e para saciar minha sede de teatro.

Preciso assistir ao julgamento universal,

ouvir os coros imensos,

as lamentações e as queixas de todos,

desde Adão até o último homem.

Eu existo para assistir ao fim do mundo,

eu existo para a visão beatífica.


**Murilo Monteiro Mendes (Juiz de Fora, 13 de maio de 1901 - Lisboa, 13 de agosto de 1975)
Foto: Murilo e Saudade

domingo, 17 de maio de 2009

DEPOIEMA





A garganta do mundo grita a cidade filha da puta.


A realidade é obscena, prostíbulo da vida e dos "humanos":


Zero à esquerda e à direita da bala perdida.


Um braço amputado e o coração atingido


num grito da mãe e de todos os parentes diante da caixa que leva o corpo:


_ Apenas o que restou!




E o mundo reviravolta na cabeça de quem feito eu grita pra dentro: _Eu não posso fazer nada!.


Tarde de domingo que anestesia a violência no peito e na vida.


Fotografias mortas e pessoas perambulantes nos morros e favelas, sinônimos!


Gente de carne preta (quase-sempre)


e sem dinheiro, portanto, sem alma, é óbvio.


Edifícios longos lá no sul dificultam o enfrentamento da fatalidade matando


porque o cartão-postal é mais importante.


E eu sou assassinado brutalmente pela imagem que de relance percorre meus olhos


agora e pronto.


Deitado assisto à tragédia greco-romana num brasil pouco clássico.

Escrevi esse texto logo após assistir e presenciar o documentário Abaixando a Máquina de Guillermo Planel

quarta-feira, 13 de maio de 2009



Ela é a lua

linda a lua, ali!

Olha pra ela.

é linda a lua nua levando a rua.

Levando dos olhos a lágrima cheia

a raiva minguante,

Eu: amante crescente.

Linda a lua lá na rua,

Lua linda, lava a rua

e limpa a raiva tua da minha vida lua.
Andei reiventando as mesmas leituras repetidas vezes feitas
dos mesmos papéis de tintas de dia desses quando nos amávamos.
Era mentira tudo? Era verdade tudo?
Era um mundo que não gira mais, destruido por turbillhão de forças ocultas
vistas a olho nu.

Meu corpo era também nu, desnudado do meu corpo. E o teu debaixo dele suava o amor que era tanto atado aos poros.
Mas não foi suficiente a loucura para que me queixe agora!
Me absolvo de tudo o que não fiz, por que me culpei lento e tanto?
Não há culpas num amor assim, há, sim, um desequilibrio de forças e tensões
de músculos do coração, dos cabelos e das unhas arrancadas na dor que tardava.
Agora, mandamos o amor não sei pr' onde, assim como se nada houvera de grave, grávido de tudo ainda e grave ainda a história eterna de dúvida, raiva e rancor do mundo todo e todo mundo.

terça-feira, 5 de maio de 2009




Quero dançar por entre as palavras,

escorregar pelos çedilhas,

virgular as pontas de todos os sentimentos e suspender a dor.


Verso em movimento- trânsito

Poema da pele seca e dos olhos marejados,

Dito com a mão o pé e a alma... eu mesmo contado em dança.

Quero é sentir areia no palco, um bombardeio com arte e grito sensitivo.

Virar de cabeça pra baixo o corpo que Deus lançou no mundo.


Ser. Apenas ser bailarino e cantar do corpo a minha história, dolorida ou não.

Fazer num refrão ou numa estrofe só todo a memória

da palavra no corpo e seus desdobramentos em vida.

E depois de tudo só restar Aplausos!