sábado, 31 de janeiro de 2009




Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Da Pobreza

"Os meus preferidos são os preteridos"
disse o São dos Pobres
o São das dores,
o São dos sãos
O de boa vontade
que ao mundo ainda diz a secular essencia dos homens
que nos lembra da alma tão simplificada pelo homem do último século
que mostra nas chagas a dor de um mundo faminto
dum mundo instinto
de uma espiritualidade subterfugio dos interesses de si
São Francisco de Assis
o pobre, na Terra mais rico
o mendigo luxuoso das formigas
da carruagem de asno que atinge o cosmos
que ensina aos excluídos a predileção deles no céu. (JP)

Irmão Vento, Irmão Sol


Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho
Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom dia, amigo
Dizendo ao fogoSaúde, irmão
Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesus Cristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos
Vinicius de Moraes / Paulo Soledade

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


Minha terra tem coqueiros
onde crianças famintas não cantam
as aves são coloridas e a caatinga, acinzentada
que nem os olhos do vaqueiro num dia ensolarado
Minha terra é uma farsa apaixonante
tem mulatas e negros e armas
drogas a granel
e mães sem peitos que embranqueçam o sangue dos seus filhos.

Minha terra as vezes dói de tão diversa
mas a pobreza e a misérias são extremas e semlhantes
Tem carros importados, de bois, de ambulantes e de catadores de lixo.
E há quem diga que essa mera e absurda diferença nos torna belos perante outros,
por favor, quero uma aquarela diferente
em tons quaisquer que me digam de gente sorrindo e estômagos cheios
de espíritos letrados e de artesãos
e de artistas pagos,
Todos num mesmo quadro,
sem impostos não devolvidos
sem bandidos em Brasília a discutir seu saldo do mês
sem freguês de outra terra a mandar e desmandar
quero a natureza a mamar no seio da mãe Terra
quero a seiva do homem feito homem e da mulher feito mulher
quero ver minha gente a cantar "Vai passar"
num carnaval sem tanta fantasia
quero João e Maria vvendo ali, do nosso lado
não quero este retrato de cores divididas
repartido defronte a tela de TV descolorida
que abusa da vida e emburrece os olhos de quem vê.

Ai quem me dera voltar pra lá um dia
e ver outra hitória se repetindo, não a minha.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Reflexão n°.1


Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho

Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio

Nem ama duas vezes a mesma mulher.

Deus de onde tudo deriva

E a circulação e o movimento infinito.

Ainda não estamos habituados com o mundo

Nascer é muito comprido.
Murilo M.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

escrevo p mim

Dia desses a poesia recorreu a mim para que a transformasse em poemas
depois disto me faltaram fôlegos e vírgulas que estancassem o que foi sendo dito.

Respirei-me, inquietei meu mundo e comprometi a vida
os homens e mulheres já não me olham como antes
nem eu me reconheço na força da palavra e do corpo
Mas creio,
E creio que o mundo se descobrirá num livro
frase escrita num papel qualquer e entregue a um "meu" grande amor.

Sou eventualmente o que invento das minhas escolhas
Sou minhas próprias negações
vou repelindo e resistindo, porque seria pecado
viver tudo.
A vida é um negar constante do que ousamos sonhar , a vida me cansa
a vida em mim dança.