quarta-feira, 16 de junho de 2010

O ofício do poeta Borges me foi tomado da prateleira de uma sala de leitura hoje pela manhã.
Cedo tinha acordado por um telefonema fraterno e apressado de minha irmã mais velha.
Os irmãos tem uma quantidade de coisas que nos impacienteiam ou nos sensibilizam, um ou outro.
Mas não me imaginei quando havia acordado que às 9 da manhã um livro de palestra de Borges
me viriam corroer as mãos e os olhos por apenas 45 minutos, aproximadamente.
O título de um livro é sempre o que me chama a atenção. O autor também, mas nada como um bom título
para deixar as curiosidades efervecidas.
Pois bem, o livro foi pego e a sensação de já tê-lo lido era tão impulsiva como a vontade que me fêz anotar em papéis pequenos brancos as frases mais expressivas a mim e a todos os leitores que viriam ontem e que  vieram amanhã. A fome lembrada pela única xícara de café tomada me desviava a atenção daquele discurso fenomenológico ao que Borges me convidava. Nunca pensei lê-lo com tanta avidez e perplexidade. Não que Jorge Luis não me seja um dos pupilos escritores, mas aquela sim era a verdade escrita tudo o que já lera dele em outros livros enormes. Ali, em poucos minutos divididos a umas 100 páginas somei a esperança para meu dia.
A poesia é, não vende nem compra, não apaga, não borra, dá a luz despausadamente a ela mesma e escorre no corpo lírico das outras, dos seus sentidos que na poesia é bambo, vacilante, escorregadio, desconfiado e espaçoso. O velho abismo em que nos atiramos sempre ao ler, ao desconcertar a música dos versos e a repetir a leitura por uma vontade explícita, ma sinterior que nos faz alcançar uma páginas de palavras desobedientes da realidade fraca.
Sim, não há nada mais fraco do que a realidade, se é que existe, essa cápsula extracorpórea onde estamos metidos e a onde somos levados. Por que não a loucura, a embriaguéz, o ópio, o ócio, tudo amalgamado e sendo.
Não há coisa pior do que a verossimilhança creditada à Literatura, nunca foram tão injustos com ela, quando não sei quando esse insight tomou os manuais de literatura, a poesia subverteu a ciência que estaria por nascer e matar o que é poético: a própria vida, outro nome dado ao que chamamos poesia. Vida existe, sim.
Realidade é a nossa reação por não atendermos só em carne e osso o que é a vida na sua circunferência total e absoluta.

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