segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Hoje era ontem e depois de amanhã.
Meu carro fedia com meus desejos de sexo mais tarde.
Espero há horas no trânsito infernal da avenida Domingos Olimpio, grande escritorcuja homenagem foi um espaço urbano por onde traspassam pessoas vazias, em carros grandes e cinzas e pretos na maioria, mas não leram quase nunca literatura. Devaneio com a imagem de Luzia-homem seminua desfilando no canteiro.
O medo de mais prejuízos me proclama um ser humano mesquinho: mais gastos, menos dinheiro e uma sobra de infelicidade por meses adiante. Diante de mim fumaça- fumaça- fumaça, a briga por quem polui mais, quem gasta menos tempo e ganha nada. Uma futura noite mal dormida, de tres da madrugada às 7 da manhã, os ombros acordam antes que os olhos com muita dor para o dia inteiro. O enfervecido mundo que eu escuto da janela de um prédio vazio cheio de apartamento, dois por andar, respectivamente aos carros. Um medo de mim, de sair outra vez para o dia impreciso da semana. A espera por dinheiro, por acontecimentos que desencaminhem algo a mais, a fuga das gripes contínuas no Planeta Gás Carbonico que roubou a orla belíssima de minha cidade desde os anos setenta.
Viro-me de um lado para o outro da cam, o mundo: dormindo ou não, me inquieta e abre-me portas, rasga meu travesseiro, os bares estão lá esperando-me no fim de semana. As mesmas pessoas guardam suas alegrias no samba de domingo, no copo de cerveja quase quente num calor de dezembro cearense.

Creio eu que já morri e não me disseram, dirão quando morra outra vez. Muitas vezes a gente falece de tudo, menos de fome. A dor de cabeça é um detalhe diante dos tumores intra-alma que nos vão crescendo por toda a vida e nos assassinam após uma metástase de meses.
O dia termina, o ano e a vida toda de um pedaço de tempo desaproveitado. Queria ter sido algo mais importante para mim, mas fui para outros e nem me deram um salário mínimo, recompensa.
A noite chega e a certeza de que todas as coisas se repetem no mesmo disco, no mesmo lado, no mesmo endereço que somos.

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