segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010


Eu quero ir embora pra bem longe
pra bem longe
onde haja só uma árvore e sua sombra
um monastério de seres perdidos desse mundo
estejam em ausência de todas as possibilidades
de todas as sensações mediocres que se submeteram.

Vagueio dentro de mim
sou uma cratera única no fio do mundo
caminhando hoje
trémulo
cego
sem estômago
sem água para beber.
com medo de mim
com coragem de morte
Ponho-me na cruz e suplico
não há ninguém
nada que me sacie com vinho acre
com um choro por mim.
Não quero
quero tomar o veneno da mentira
da perdição dos fatos
do homicidio do amor.
Nem Deus ouvirá o meu pedido
nem ouvirá nunca mais.
Pagarei no inferno da solidão
porque a escolhi com esposa.
a morte? A solidão definitiva
caminho de agora até um amanhã sem predição.........
Perdi o amor
o próprio
o consolável
o crucificado
o de noites
o de dia.

Cadeira vazia
Mesa vazia
xícara(   ).
Não há mais nada
a palavra se opaca
se defila
se derrete em mim.
Minha vida foi negada.
quem sou eu eo amor?
Morrendo talvez exista um outro templo
onde outros sacrifícios
outras vítimas se matem, sejam holocaustos
de qualquer outra epécie de veneno
que não sej ao que eu tomei hoje, sozinho.
sozinho porque nasci assim
sozinho tiraram- me uma perna.
sozinho vou buscar, ela e tudo o que me amputei.
Cavarei minha sepultura, pá a pá
silenciosamente me cavo me enterro me mordo
me morro
outras vezes quando for preciso
outras vezes
e me despedirei da vida
provando da alegria mais suposta
e da tristeza mais correta.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um copo de vinho ao lado
uma cama sem cabeçeira nem criado mudo.
A noite semi-burguesa de geladeira vazia.
O medo de que a chuva seja ainda mais forte que ontem
são preocupações vazias que me alcançam o começo da solidão.

Abro O Caim de Saramago
As palavras assaltam o meu imaginário e tentam me tirar da cama.
Inquieto minha leitura sempre que me vejo no meio da verossimilhança.
Sou eu o protagonista, o vilão
a circunstância clímax que escolhe o autor para
desenrolar um desfecho menos óbvio,mais  literário.

Ar, mas dessa vida real tenho mesmo muito pouco!
Dentro das páginas folheio com minhas mãos
aquilo me poderia passar num romance
mas não  haverá um Capitúlo I.
Não tenho mãos para me comppor
não sou o artífice para degenerar o real naquilo que ele pode se desfazer: ficção.
Danço canto e choro aqui neste plano de mundo
sonho para que estrelas continuem a iluminar um céu
espero vê-las à  noite detrás da fumaça citadina que me resta.
Vou para a cama estando já desde centenas de minutos
e insonho de olhos fechados o meu melodrama salvífico
de todo (o) dia esperar que eu seja outrem
que abram portas
que me deixem mais humano e menos livro.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

 Rufino Tamayo

Libélula sem asas
palavras usadas
no mesmo
verso que se decompõe.
O vento me apavora
as veias me saltam e um liquido
corrosivo avermelha a ponta da minha epiderme em pânico.

Palavras compõem a minha dor.
Fujo e fungo o último odor que me resta de alguém.
Além, proponho um céu rabiscado e de estrelas...
Olho um mar negro lançar ondas de remorço
e meu amor ser a dor desse segundo fisgante.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Haverá um dia em que todos os homens comerão a mesma mulher.
Todos sentarão na mesma privada
e cearão o mesmo vômito agrotóxico da natureza.

Um dia em que todos ao levantar suas visceras
perceberão que tudo não passou de um fracasso
que não restou nenhum dos cabaços nas femeas silvestres
e braços de mar, e rios.

Sim, esse dia chegará
Apocalipse de adão e evas nuinhas
insolaradas por UVA e UVB: desprotegidas
vaginas que não mais trarão filhos.
Homens que se aborreceram do sexo
e não tiveram tempo de abrir o selo do amai-vos uns aos outros.

Quando isso acontecer
um dragão vestido de sol
com um diadema de palavrões e baixarias
egolir-nos á
por termos sido menor do que
se contavava nos projetos do Criador.
Eis a profecia digna de toda a crença
Digo eu, João apóstolo de mim mesmo
e detector das pragas que abaterão
a Europa primeiramente: babilônia genitora de miséraveis indígenas e negros
Estados Unidos: diplomata do capitalismo que deu certo demais
segundo as estatísticas do IDH e da distribuição de rendas
E ao cabo A-frica-mérica-sia
porque os últimos castigos,
piores, sempre foram nossos.
Nunca peças perdão pelo que fizeste de pouco ou muito
não cantes mediocrimente um amor morto
Horto de um anticirsto blasfemador
Cravos nas mãos do amor e sua insurreição.

Vale-te
do que és
do que foste para mim.
Isso, em fim
é o bocado que resta na fresta da do rque não podes mirar
pelo fio de luz que  se ausenta do meu quarto há muito sem ti.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Meu amor é um fratura exposta
um gole acre entumecido
vigoroso e letal.

É um corredor percorrido a noite inteira
Chuva fina caída lá fora no dia mais triste da vida.
Há muros que foram por ele construído
Há o próprio amor que vai remoçando
como se dele mesmo nascendo
E morre, e vive e segue falecendo
aquelas milhares de coisas que se impunham em cima da mesa
do armário, das bolsas e do miocárdio imprudente.

Há no amor uma espécie de continua despedida
mesmo no reencontro diário e enfadonho.
Há no amor gota, um solo
um água que não jorra
que não seca
aparece mas não totalmente se encarna
nem como corpo nem como alma.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Van Gogh


Amor é uma coisa.
Coisa é um substantivo masculino ou feminino que se adequa a qualquer outro
e não se determina consistente.
Cada um, sendo coisa ou humano
pode versificá-lo como quer ou lhe convém.
Que coisa o amor
Exatamente assim
diz e repete o ser ao qual essa coisa  falta.
Que também (não) me cabe.
Que me joga contra a parede ou para além dela.
Me põe enganado para dormir
E quando acordo leio Dos Anjos:
O amor na humanidade é um mentira!
Concordo em parte com o mais novo poeta.
Porque provo do amor o que ele propõe de mentira e verdade
O que o faz o sentimento mais escabroso e inútil
Ah! Sua maquiavélica mecância de seduzir, iludir, redimir, usufruir de toda cacofonia
resistente em seus seres doloridos: seja ele um homem, uma mulher ou um poema.
Circunstâncias incertas e diretas em cama mesa e banho, onde o amor acontece.

Para falar do amor é fácil
O segredo é não ser composto, mas simples
É não viver seus sentimentos sem escrúpulos
não sentir todas as alegrias:
a vertigem de um momento preenchido por dois seres à noite
os suicidios paulatinos
os homicidios regeneradores e macabros de nós e do outro.
Loucura(s), singular ou plural
é o que resta na coisa no amor
uma coisa que o poema
humilhadamente não logra

sobram excessivas razões para...
E o coração, velho átrio para
o sacrificio de todas as horas.