terça-feira, 29 de junho de 2010

Construção

Deus mora no mar.
a mãe d'água na areia
o saci no avião,
o caipora na prisão
e os anjos num quarto escuro.
Deus come goiabas quitadas do pé
Yemanjá calça sandálias pretas
e Iara estirou seus cabelos na asa da Jurema.
Iracema correu pra Índia,
buscou Alencar por lá e nada viu.
Fez Kama- sutra com um africano raivoso
e deixou o mel em lábios Acres.
Quero um mito de Orfeu,
eros pro meu sexo em desarticulação.
Vou tocar a harpa desafinada do amor platônico
vou desfazer os mitos que geraram poesia até hoje.
Quero encontrar o poema que se esconde detrás da história da arte
dos contos clássicos, da poesia sacárdica, bancarroca e dos parnasiânus.
Vou entregar meu livro à Academia
e dar autógrafos ao Coelho.
Vou fazer sucesso na esquina tomando cerva
e fumando um puro falsificado.
quero ler com os garanhões e prostituas que não comem nada
vou buscar o verso no reverso de onde dizem estar
quero inspiração no sentido oposto, no pulmão esquerdo
não me contaminarei dos cânones dos cães europeizados
americanamente.
Quero escrever como na idade da pedra
lascado e sem ritmo
pulverizar as idéias herméticas que metram    no cérebro da poesia.

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