segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Tu gostas de animais
do que há dentro deles
do que as plantas precisam
do que elas podem dizer...
tu não escutas sempre meus poemas
e eu os digo e dormes
e eu eu eu
é o pronome que me vicia
que me auto estrangula e coloca o pé junto a ti
toda noite.
Quando viajas
as plantas, as músicas
os espaços se arrumam como se estivesses sentado
cheirando a flor e ouvindo Elis
e caio na solidãoda cama larga,
sem mar e sobrando panos.
Uma canção desesperada
espera-me do outro lado
quando me deito
finjo dormir e a vida estica os dedos e estala forte
penso no que fazer depois de lavar as coisas
e arrumar o quarto
e ouvir música
e sair com amigos.
Saio da cama como quem derruba árvores.
desmaio no corredor para que algo me sustente
a vida mesma, essa promessa indevida.
Ensaio todos os dias o que vou ser
repito em notas agudas e graves meus erros
como quem alcança o tom inaudível
busco perco faço e saio
não nesta mesma ordem de desespero de ser
mas na ânsia de querer sobrar ainda algo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

“ Aquele que mente a si mesmo e escuta sua própria mentira vai ao ponto de não mais distinguir a verdade, nem em si, nem em torno de si; perde pois o respeito de si e dos outros. Não respeitando ninguém deixa de amar; e para se ocupar, para se distrair, na ausência de amor, entrega-se as paixões e aos gozos grosseiros; chega até a bestialidade em seus vícios, e tudo isso provém da mentira continua
  a si mesmo, e creia-me é por vezes bastante agradável mentir a si mesmo.”
Dostoievski

sábado, 7 de agosto de 2010

um poema para falar da vida e sua urgência
o relógio de cordas avançando os acontecimento e nos ternando feios
pele osso membros
tudo se putrefa debaixo da terra
por enquanto se quebra
assim como os desejos abandonados por obediência.
Um poema para falar do agora e sua imprecisão absoluta
o pré-vida e o pós-morte
frustradamente explicados por religiões estúpidas do mundo inteiro.
A ideia de Deus incutida e sufocante
bobagem criada pelos fracos
certeza dos fortes mártires extintos.

Um poema para falar do amor e sua efemeridade
o avesso dos poetas
a certeza de que sexo e paixão fazem mais parte da vida
do que todos os familiares.

Um poema para não falar de nada
para se inventar e sair da palavra
.Escorrer pelo corpo e impregnar feito suor
absolver a culpa do verso manco
e da rima sem acento.
A poesia desmistifica o óbvio de tudo o que foi dito anteriormente.
Assombro no amanhecer
depois da noite falecida
o sol já se finda e a minha alegria
é passagem
Vago, de uma substância aparente
Escrevo por encontrar um labirinto.
Nele, todos os dias satisfaço-me na procura meticulosa
de esquinas defeituosas
passos muletados
barulhento,
odeio meu caminhar!
Construo muros mais espessos do labirinto de todo-dia
 nao olho o outro lado
nao enxergor mais do que o muro alto
o desejo de alcançar além
e destruir a ideia de céu inferno.
Um lirismo de Baudelaire sapateia num espírito pós-moderno.
Beijo em Paris o frio de janeiro
e o cinza de outubro
O amante arranjado para dias
 jeparle, yo hablo,ich spreche
falo tudo que cospe o meu passado
e penso confessar o segredo que desconheco.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A tarde de um domingo sem ventos.
O sol posto é quase eternidade.
A semana que promete: serei o mesmo em 7 dias?
Não há como desfazer rotinas
desabotoar roupa e calçado sair disfarçado ao trabalho.
O horizonte do tamanho de uma janela me limita os dedos
não sei tocar instrumento, tomar um café,
mas se pudesse seria  violino ou cielo
cordas me diriam mais que  teclas
parecem-me com dor, falta, busca;
angustia de encontro indesejado.
O livro abre-se nas mãos e as letras soltam sulcro palido
nada dizem do que esperava
a novela de cavalaria, no vigor do pleno século
seria mais interessante no fim do dia.
Beijo minhas mãos e ponho-me o crucifixo
queria estar em tábuas
em cama esticado e  sem sorte
dormir uma noite inteira sozinho
ter medo de sonhar e não ser mais o mesmo.
Não seria assim
não fosse tremendamente oposto
frágil
vidríco
acrílico
bombástico
cristal sem rima.
A procura de uma canção com versos fortes.
Sede de água mesmo,
de banho quente
de masturbar o corpo
de flagelar sentidos e dizer adeus para mim.
Não escrevo cartas faz alguns anos
no máximo dedico bilhetes curtos em flores acompanhadas.
Flores para ataúdes e aniversários
perdas de parentes fecundos
e minha arte em estado vegetativo
explodindo em mim, dança.
Sou um copo sujo na calçado
sou importante e pequeno para mim
às vezes rei, pirata,
tesouro ou merda.
Sou alguém gigante
que se esconde em formigueiro
por inútil.
Ando por avenidas estreitas
covardemente tirando paz das vidas
que assoberbam meu espaço
me degolam de calor
e conversam tonterias.
sou eu mesmo que reclamo para mim a condenaçãod e ser gente
e viver meito bicho solto e arredio,
todos mordem, envenenam e não são
nada, nem eles mesmos por instante sentado na cadeira,
esperando o que.
Saberse yendo
saberse ido
estar es algo como una flor que huele y se cae.

Me voy porque la risa se muere
la vida ya no late
y mi canción es corta.
No hay ya culpas
no hay beso
no hay cama
pero hay poemas
hay nostalgia
hay recuerdos
rosas muertes
y promesas olvidadas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Palavra desencanta a gente
decanta e divide o estado de coisas
desfigura carne e alma
flagela coração e ventre
ventaneia e causa dó
Impluma a pele
descasca os pelos
escreve e apaga
apaixona e odeia
palavra é algema e asa
É poema-ofensa
É densa,
mesa
Toalha
água e uma saudade desconfortável

palavra nasce morre e se eterniza
vez em quando desfalace, banaliza
não serve um copo, uma taça e não serve
pra nadar.