domingo, 26 de setembro de 2010

Há no amor uma espécie de pedra
de rio, de árvore
de caminho
de olhos
de corpo
de água.

Há no amor uma espécie de felino
de quadrúpede, de ave,
de réptil, de mamífero.

Há no amor
uma espécie de armário, de louça
de quadro, de vaso, de cadeira de balanço,
de sala, quarto cozinha e corredor.

Há no amor uma espécie de coisas
que ao memso
tempo alimentam, abrigam, banham e adormecem.
Mas no amor há também uma porção de fome
desabrigo sede e insônia.
há na poesia o que falta no amor

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Não me traga flores
Não me deixe cartas
feche a porta por um segundo.
Não leia meus segredos
Não deixe de amar como me amas.

A noite, amor, é inteira para e não dorme
Aos que vigiliam
ela é amante e pertuba,
a falta de nuvens esclarece o seu negro
e os poemas são flamejantes por trás do coração.
Não me quieras dormindo,
queiras teu corpo dentro do meu
como sempre e outrora.
Feitio de uma vela acesa quando menino
acende apaga, acende apaga
e fenece pelos dedos brincantes.

Vamos à cama, nosso encontro final e permanente
confesionário onde choro e confesso
onde finjo onde penso onde não duro
e te amo no espaço do teu lado.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Parei para escrever um poema que não queria ser escrito.
Na verdade não sei se ele não queria
ou eu é que tinha medo de encara-lo.
vacilei por dois minutos e pus a mão encima do caderno.
O papel se fazia escuro
embrulhavam minhas ideias e nehum sentimento, seuqer nu,
para me volver melancólico ou embrutecido.
A poesia miserável era o que caia dos dedos
pedindo esmola ao amor,
raiva, rancor, ódio de ti e de teus amigos
de tuas compras
de tuas aquisições fiannceiras
tuas viagens vertiginosas
tua vida feita me realizações e crenças.

Amor ao teu sexo rotineiro
a tua voz me acordando tão devagar
o teu toque e tua agonia em esperar por mim.
Tua presença tao forte quando estás ausente
muito tempo resta para eu um ser contigo.
Sobram em mim amor e ódio e é por ti
despediço horas do meu dia
das minhas horas, do meu mês
amando-te e odiando-te
como um amante e um inimigo perfeito.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Do lado do mar, amor
do outro lado tem teu nome,
tua casa
tua viagem
tua verdade absoluta,
minha menor certeza.

Tempo de agua salgada
desliza sobre a vida desertada.
Tua imagem emcaracol nas pedras
espelho rustico fossilizado.
Espero com as ondas querendo-me molhar
imagem da vida que promente muito
mas enquanto espero tua volta
tu já mudaste as velas
e ancoraste em ilha pacífica.
Meu mar não permitiu tua parada
e não deixaste sequer uma lembrança.
As sereias não me trazem nunca
um canto teu na madrugada.

domingo, 19 de setembro de 2010

Nijinski

trocadilho
poesia em vez de rima
reivindicar palavras novas
precisamos menos de derivações
viva o primitivismo
a experiência anterior a todos os sentidos.
o primeiro nome
o primeiro beijo
o primeiro copo de agua
 o primeiro rio
o primeiro livro
o último amor.
a lembrança do que não recordamos
é a mais absoluta forma de ser.
Não ser é um direito de todos
não ser profissional, não ser ninguém
em algum momento é uma questão de sobrevivência.
Depois disso, só esperar a vida
e o suicidio rotineiro das pequenas satisfações sociais.
O sucesso na vida, no trabalho, na familia
e o fracasso de não ter conseguido não ser aquele dia.
A dança limita meu corpo
a dança em mim cede e excede
me faz fracasso e força.
Fome, sede movimento e queda.
há um deseuilibrio em cada marcação
um desafio ilimitado em conseguir não ser perfeito.

O corpo é um baú maior que pensamos
nele se guardam todas as quinquilharias
os passados palavras
os passados dores
os passados músicas
os passados raivas
os passadospaixoes
os passadosseparações
perdas, mortes, sonhos e suas variantes íntimas.

O corpo como possibilidade de perda constante,
de saber que se ganha com isso.

Comecei o balé depois que a dança em mim já era vida.
Comecei um movimento no prirmeiro dia de embrião e
desde lá vou levantado e caindo para dançar melhor
para provar que há movimentos possíveis
que há amputações que não se pode medir
que arrancam nossas pernas e braços e estomagos e
ouvidos e audições e inteligência
sem nos pedirem total acordo,
e que a nossa dança se faz disso
ou das faltas:
dança-se porque a falta excede
e que por não sobrar nada
reivindicamos o principio de tudo a todos.
Ele acredita que a terra não é de todos
que não se vive em abundância
que pai e filho se matarão no fim dos tempos.
Ques os seios secarão o leite
que o semeador colherá pragas
que não haverá um livro da vida
que os homens guerrearão
que o mar tomará tudo que foi dele
que as praias serão uma remota lembrança
que víbora e coelho,
lobo e cordeiro nunca dormirão juntos,
a paz foi uma filosofia gasta durante séculos
que a ditadura é o real sistema de governo
e que todos foram famintos um dia nas suas vidas.
Ele acredita que é preciso acreditar no infortúnio do futuro
e que o presente é uma questão de estar vivo ou morto.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Você me diz que não tem tempo
que não te dou flores
que nunca mais fiz poemas
que não sou mais o de antes
e todos esses clichês chatos dos ridículos amantes.
Eu te digo para viver
te digo para sair
escolher outros lugares
fugir comigo
comprar coisas desimportantes
viajar sozinho, com amigos.
eu digo, você não me escuta,
mas ama como quem não sabe o tamanho
e dorme como criança protegendo teus pés no meu.
e pede beijo
e faz gracejo,
piadas repetidas
chora de coisas antigas e guarda
muito que nunca me diz.

Eu e tu , o que será dessa borboleta?
será  uma lei absoluta
um medo de não cumprir
de fugir de sair do outro
um amor de louco sereno
amor que abraça
fica longe
volta
fecha a porta, compra poemas feitos
quer publicar meus livros...
Amar é só um perigo!
Risco desejado no papel do corpo
e eu, no fim do dia, morto
com pouco dinheiro e torto de sonhos...

Meu amor é para ti caballero
quixotesco
de dedicatória ilegível
e várias páginas indescritas

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A palavra olho
botão
barco, plástico
português
língua
frasco
a palavra braço
cintura.
A palavra me mistura
quero pronuncia-la antes de falecer
antes que se percam
que morram se digam.
A palavra PALAVRA
a mais bela
surrada
amputada
sem acentos
a palavra PALAVRA  séria e abusada.
Não sei se é minha vontade de ser poeta
que esse mal-estar me deixe preocupado com uma coisa assim,
e não me faça lançar meus livros da estante.

a palavra nasce cresce reproduz e não morre
a palavra socorre, foge, chove e engole.
Farsa cotidiana de cada dia.
Meio morno o coração duvida
segue seu caminho torto
submete-se ao corpo,
verdadeiro dono das escolhas.

Leio minhas páginas, minhas linhas
confusamente salto pelos capítulos e negou mromance donjuanesco.
preciso escrever poemas concretos e realistas
versificados com compassos e réguas
rimar retilineamente
nada de sentimentalismos
sinestesias improváveis e tentativas de melodramatizar coisas pífeis
como os beijos que te dou, que te dava
dentro dos pensamentos sujos.

terminarei o dia
sacrficando-me mais uma vez
resvalando pelos extremos de meus dedos
confessando veladamente minhas vontades vencidas.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Meio-termo


Composição: Lourenço Baeta / Cacaso


Ah! Como eu tenho me enganado!


Como tenho me matado

Por ter demais confiado

Nas evidências do amor
Como tenho andado certo


Como tenho andado errado

Por seu carinho inseguro

Por meu caminho deserto

Como tenho me encontrado

Como tenho descoberto

A sombra leve da morte

Passando sempre por perto

E o sentimento mais breve

Rola no ar e descreve

A eterna cicatriz

Mais uma vez

Mais de uma vez

Quase que fui feliz



A barra do amor é que ele é meio ermo

A barra da morte é que ela não tem meio-termo
Não desperdiçe a palavra!