domingo, 29 de março de 2009



Nenhum traço na minha tinta ainda é descontínua...

Continuas pintando, sim,

E eu, teu modelo pronto,

satirico, sofrido e amante.


Meus pés na irrealidade tocam o quadro dos teus

e roçam o contínuo dos teus dedos.

Falta- me cores hoje para escrever, falta-me beijos,

falta-me as palavras, quaisquer.

Fala-me! E lança contra mim a tua dor em preto e branco

enquanto acreditas que sem ti minha pupila é colorida.

Não mentes os passaros quando ainda cantam

nem as flores quando se abrem.

Os homens, sim, estes fingem não respirar mais um amor.

domingo, 22 de março de 2009

Eu descobri que danço
e que a Terra é nossa primeira bailarina.
Que todo mundo compõe uma partitura de movimentos nas ruas
e um espetáculo move os olhos de uma platéia vazia.
O sol sai muda de lugar. Agora sou eu o centro do universo
e a música toca quando meu corpo diz a nota.
Faço poesia simples e descubro que preciso do amor para bailar
Que sem a lembrança de um flor vermelha não conseguiria escrever uma carta
nem dedicar um livro inteiro a um grande amor.
A dança vai figurando em mim um outro em mim mesmo
e de encontros fortuitos sobrevivo comigo entre o fracasso que é a vida e a morte.
Pintura de Plinio Renan


Abrázame, mi América

con tu dolor de quinientos

Tu pueblo aún grita las pérdidas que siguem siendo

y la injusticia están marcadas en las mantas y montañas de los Andes,

de todos los árboles que resisten con sus raíces bajo nuestra tierra.


Bésame, América

y con los vientos del Atlántico y del Pacífico

traeme otra história a mi pueblo que muere de hambre y por armas.


Escribe con tus própias manos un libro

donde allá haya la historia de los indios tendría más victorias.


Brasil, Perú, Chile, Colombia

así se llaman las tierras marcadas por otros que no eran tuyos

Inca, Azteca, Mayas, Tupis, Guaranies

estos, sí, pertenencen a los colores verdaderos de un pueblo sólo

que canta las penas, baila las pérdidas y yaz las muertes.


domingo, 15 de março de 2009



Há anos não te escrevo,

mas agora mesmo um engasgo da palavra saudade atravessou-me o pescoço por dentro.

Choro-me, chovo-me inteiro

porque em tardes de domingo as nuves escondem o sol e são maiores e escuras.

Tenho saudade de tudo

o café já tomei, minha boca já o estranha

a água de ontem

o sono à noite

tudo me é ausência de tudo.

Sou todo inteiro da saudade e de um computar com tela branca esperando meu poema

a Poesia é a única depois de anos que não me visita

a que resolve acenar e dizer adeus.
Um banco vazio da praça acusa também a solidão
A tarde de domingo é em si mesma sozinha
e acompanha os suicidas em sua decisão.

domingo, 8 de março de 2009




Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Neruda

quinta-feira, 5 de março de 2009



A areia dos meus olhos vai secando

o coração sangrando

e a vida envelhecendo

a morte é certa

o amor não previsto

e todo o nosso caminhar é de empurrões de engano

de um amor que se perdeu

e de uma dor do passado sempre presente

a lembrança da felicidade é o consolo

porque ela mesma não se apresentou ainda

talvez virá com a morte

más allá, quizá.

e como a noiva que nos arrebata
ao prazer de uma noite eterna.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Chales Baudelaire


EMBRIAGUEM-SE

É preciso estar sempre embriagado.
Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.