quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009








Desta árvore só espinho
Nasce o verde que só engana
Do vermelho raro finge sair um fruto
Mas a figura do Cacto é a fartura egoísta
De quem esconde água quando o sertão é seco.

Meu povo reza aos pés dos Juazeiros
Onde se esconde a butija e os sonhos não sabidos
O Juá doce amarga na sombra sem nuvem
Estira-se o corpo da família em carne e osso
E uma cadela mais feliz do que os outros
Mostra-se mais humana que o menino mais velho

Faltam-lhe forças
Faltam-lhe asas que os levem feito urubus
E uma carnificina qualquer afasta a fome de uns dias.
Mais nenhum morto meu deus ! O inferno já está cheio!

Na falta de palavras e comida
A sede de dizer o que não se sabe
A covadia na algibeira
e na peixera, um matulão vazio
um mundo, um homem e uma mulher sem cama
num sonho da casa de Seu Tomás da Bolandera.

Um comentário:

  1. Verso cru de verdade e literatura viva, espinhosa, dolorida, dentro do egoísmo feliz e triste da água de si. Verso verdadeiro, raiz profunda de cacto, raiz de gente e de juazeiro, raiz da cadela, pura, pura terra enraizada...

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