segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Juan Mirò

Pois é noite já faz tempo
duas horas quase para amanhecer
dentro de mim só escurece,
enternece a madrugada o avião que passa ao longe,
cheio de vidas com medo.
E eu aqui embaixo, mas temor ainda
tremor de terra sujando meu pé
minha boca e minha manhã prometida.


Viro para um lado o vento entra forte pela narina entupida

Para o outro, a lâmpada de cabeceira acesa impede os sonhos
San Juan de la Cruz vem à lembrança e eu me esqueci do que é São
um aumentativo?, mas a vida traz já muitos
quero algo pequeno, tão pequeno que nem perceba que esteja acontecendo:
como a abertura de uma flor
ou o próprio beija-flor sugando- a para ter vida.
a vida simples de uma nuvem que ninguém percebe vai se desfazer
Ler nenhum livro, não escrever carta
não perder tempo de olhos para páginas irreais,

só respirar o ar que me é ainda gratuito,
crescer robusto de sentimentos de éter,
de álcool
e dormir nu, passando ébrio pela noite da cama sozinho
pra quê mais alguém?.
Nasci nu, disse meu amigo Murilo, vizinho de leituras

pés juntos, mãos postas e só eu lá no útero e minha mãe fora
cheia de projetos fracassados no presente.
Vim ao mundo ser, quero sair sabendo que fui
nada de capítulos escritos por mim
quero a morte chegando abraçada com o riso
a imoralidade
a sanidade física e espiritual que devem ter as almas
..., mas quero continuar sendo... até a preposição na vida
pontuar e marcar um reticência na memória de outros que no porvir
estarão também mortos
Hoje foi o dia da minha vida que menos fui
que não  reconheci eu, que não conheci nada nem ninguém
e o mais curioso é que fui feliz estando triste
fui ao ópio em plena obrigação burocrática
e vi que escrever é meu ócio mais discretamente curtido
ferido de palavras que saem dos meus dias
e fedem ou cheiram  às vezes não dizem nada
mimesis do fracasso e da sorte. 

Beijo ao sol que me cobrirá amanhã de calor
e me prometerá luz em meio a toda penumbra dos meus fatos perdidos.

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