quinta-feira, 30 de abril de 2009

Folheava os livros ao mesmo tempo que passava pano pouco úmido na estante. Todos os livros tem sua história, mas eu não tenho nenhuma completa, pensava Joões deslocado na poeira que se sacudia enquanto varria o espanador. Os romances eram maiores, o livro de contos e poesia lhe pareciam mais interessantes desde a primeira vez quando a biografia dos livros foram lhe corroendo. Era tudo tão confuso, insistia com um pessimisno de pensamento. Narrava-se ao fundo, num rádio a Millord de Edith Piaf enchendo o espaço de som e tom quase chorosos.
Continuava limpando como se de algum modo sua alma também fosse tirando as sujeirinhas insistentes que os outros e ele mesmo havia posto. Joões era fraco, reconhecia isso, os homens e mulheres que passavam na vida eram de uma rudeza delicadamente extremas, as histórias, a infância parecia romancear-se cada vez que a memória lhe puxava uma lembrança involuntária. Sim, o mundo lhe parecia menor agora, queria mais espaço, mais tempo, mais sala e cozinha e quarto e cama, sentia necessidade de que as pessoas fossem maiores fisicamente, que delas saíssem mais membros, que fossem polimorfos, polifônicos, queria um plural em meio a mediocridade da vida com vinte quatro horas.
A música parava e Joões voltava o compacto à música um. Tudo outra vez! A música lhe dava um sentimento das coisas maiores. Cantava e a poeira baixava, da vida, da estante e dos livros. Pensava agora no banho que depois tomaria, lavaria braços e coração. Seu tempo era sempre corrido, trabalho, estudos, precisava fruir do momento de limpar seus livros como estivesse transeunte em Barcelona ou Madrid. Mudava o mundo quando recordava das leituras, mas tudo voltaria depois com a pressa e a presa da vida lhe morderia inteiro outra vez. Sua mãe, seu pai, sua famíla estúpida e querida lhe afagavam e atormentavam seus dias com burocracias e afetividades. Tudo morria e era vívifico no peito de Joões. Medo e coragem lhe acompanhavam pelas ruas e esperava com ele o ônibus de todo um dia atrasado.

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