quarta-feira, 9 de setembro de 2009


Pintura: Paixão- Alice


Tentativas.Haveria por algumas horas uma sede de água, mas não seria só a água sobre a mesa a que me saciaria minha fome de algo líquido. Temeroso do que realmente quero percorro o corredor feito a um labirinto seis horas seguidas e me perco mais. Sento na almofada escura do canto da sala, mas o descanso é improvável. Algo me falta, escrevo para alguém, suando sobre o papel, mas desisto. Hesito comprar algo por telefone, mas esquecço que o dinheiro no banco me impediria de comprar comida neste exato momento, quando chove por toda a casa e a janela não fecha. Onde estará o dormitório que um dia preparei dentro de mim ? Falta-me um pensamento, uma idéia, uma metafísica sobre as coisas, inclusive sobre a água que exatamente hoje me faz falta. Morro de saudade de tudo, de mim. Daquela camisa vermelha que não dei de presente porque gostei. Das flores que murcharam porque não te mandei entregá-las, e vem uma lágrima, mas por quê , se o que me falta é apenas um copo d'água sem açucar que me tranquilize para sempre a sede de....

Vou embora, mas já estou em casa! Nem para onde ir tenho, nem para partir e me despedir sirvo. Esconderei minhas pinturas feias, meus cadernos rabiscados com o sonho de um poema, com o meu nome e o teu repetidos, variadamente nas ortografias tentadas, na minha peleja de fazer as coisas diferentes. A tv ligada, o forno aceso o café quase fervendo e a vida não acontecendo em nada. Todo dia acordo às seis e comprovo-me, vou suportando ouvir meu nome pronunciado pelos outros o dia inteiro e sinto-me feliz, por quê? Tudo o que tenho é a inútil sensação de que sou todo verdade. Faminto e sedento, sempre. escondido no guarda roupa meu medo de ser deveria ser entregue a um baú, mas não se fabricam mais baús, portanto tenho que guardar o velho medo das coisas junto às roupas novas, inéditas e inúteis. Minha hora já chegou, tenho que partir antes que eu mesmo chegue e me assalte com mais lembranças .

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