segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ontem, entre outros dias da minha meia vida
eu quis chorar. Mas a sensação de querer chorar era mais do que a visível
e imágética de derramar águas, cuja manifestação atinge outros que às vezes acabam imitando-nos por sensibilidade ou identificação.
Eu quis chorar pra me ver derramando, para me descobrir como um rio, e que caminho eu tomaria depois da descarga de líquidos que iriam  verter  do dois buracos fundos do meu rosto
e untar a minha pele seca e cheia de choques.
Porque eu lembrei do teu corpo, simplesmente, porque eu lembrei do teu corpo, onde eu pesei antes o meu
e onde tu me pesavas o teu.
Aquela sensação muitas vezes provada de que os corpos tocam mais do que com as mãos,
que mesmo não se tocando eles já amaciam o outro com os olhos ou mesmo com o pensamento de longe, e se esquenta a libido, e acontecem outras coisas sozinho.
E eu dormi por fim, dormi e chorei no sonho, acordei turbado pela tua presença também onírica nos meus dias sem crono. E o que restava era mais algumas horas daquela dor sem finitude.Que vai rasgando paulatino o papel no corpo e distribui tinta vermelha do sangue por todas as áreas circunscritas do meu espaço que pouco conheço.
Eu ainda quero chorar e as razões aumentam porque a memória ativa a intimidade dos nossos dias e a culpa que me fizeste sentir pelas horas que eu não quis ser teu.
Ainda quero jorrar a dor que me parece não passar, porque eu lembro que tu também me negaste um poema, um beijo, um copo d'água para o amor, para a sobrevivência daquilo que era criança e, feito eu, chorou nos teus braços pedindo alguma coisa que não era apenas comida ou água, era um outra sede, do teu corpo mesmo dentro do meu estômago, dos meus rins.
Eu ainda quero chorar porque no meu corpo não para de brotar água, de nascer plantas com frutos dos nossos dias que ainda colho e caminho para poder arranca-los um por um com minhas próprias mãos.

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